A liderança que manteve o Brasil na América Latina no setor do Data Center se consolidou nos últimos anos, com um grande volume de novos projetos e em expansão. O país é referência de boas práticas e novidades, que vêm sendo exportadas para toda a região. É o que analisa Gustavo Pérez, diretor de Vendas Latam da Vertiv.

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Gustavo Pérez, Vertiv

“O mercado está atraindo o interesse de novos jogadores não somente no Brasil, como em toda a América Latina. Veremos a integração de novas empresas, atraídas pelas oportunidades que surgiram durante a pandemia, uma transformação digital acelerada e um ambiente favorável para os investimentos”, disse Pérez.

De acordo com a análise “Data Center Capital Markets Market Overview H1 2022” da CBRE, o Brasil continua sendo o maior mercado em Latam, representando 70% da oferta total da região. O país vem experimentando um aumento no número de transações relacionadas com o Edge e o 5G. Além de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, os mercados do sul e do nordeste do país estão captando cada vez mais o interesse dos investidores.

Pensando no crescimento dessa indústria, o DataCenterDynamics conversou com especialistas do segmento sobre as principais tendências e prioridades para o setor do Data Center no país em 2023.

Potencialização do Cloud Computing

Diretor de Infraestrutura de Data Center da Claro, Fabiano Tatsugawa Duarte destaca como tendência para 2023 a expansão do serviço de nuvem no Brasil. Ele cita os dados do Gartner, segundo os quais, os gastos mundiais de usuários finais com serviços de nuvem pública crescerão 20,7% no próximo ano, com um total de US$ 591,8 bilhões. O número representa um crescimento de 18,8% em relação ao volume deste ano, que deve ser de US$ 490,3 bilhões.

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Fabiano Tatsugawa Duarte, Claro – -

“Temos observado o crescimento do mercado de Cloud Pública e em 2023 isso será potencializado. Devemos ter um crescimento importante também no Brasil. A migração de workloads e ferramentas para a cloud, e o aumento na adoção de soluções de Internet das Coisas também devem impulsionar o mercado de PaaS (Plataform as a Service) e SaaS (Software as a Service), enquanto a rede 5G e soluções, que demandem baixa latência, devem aumentar as demandas por Edge Data Center no País”, analisou Tatsugawa.

Segundo ele, o Brasil possui um grande potencial de crescimento e condições atrativas para continuar liderando o setor e atraindo investimentos.

Avanço das tecnologias emergentes

Edge Computing, 5G, Inteligência Artificial (IA), Machine Learning, metaverso e Internet das Coisas (IoT). Essas são algumas das tecnologias emergentes que continuarão sendo tendências no próximo ano, no Brasil, de acordo com os especialistas entrevistados.

“Os Data Centers estão em uma escala de crescimento contínuo, o que deve ser ainda mais acentuada no ano de 2023, pois as tecnologias como Big Data, Cloud Computing, Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning são componentes do ecossistema das tecnologias atuais, e com isso podemos observar que agora estão presentes no dia a dia dos usuários, a partir da implantação da tecnologia do 5G e Edge Computing”, afirmou Marcos Sá, Analista de Tecnologia da Informação e Gerente de Data Center da Wiki Telecom.

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Marcos Sá, Wiki Telecom

Ele ainda enfatiza o momento de expansão do agrotech, que ganha impulso com as novas tecnologias. “O Brasil está em um momento de expansão em algumas áreas, como oagronegócio, o que é impulsionado pelos números da produção do agrotech, que usa cada vez mais tecnologia de ponta no plantio e na forma de administração das fazendas, essa evolução se torna crescente com a implementação do 5G, o que nosremete a construção de mini Data Center que utiliza a tecnologia de Edge Computing”, ressaltou Marcos Sá.

Novos investimentos

Para o CEO da Elea Digital, Alessandro Lombardi, a tendência é que os operadores de Data Centers continuem construindo nova capacidade em cluster de hyperscales na região de São Paulo e Campinas, “ajudando a reequilibrar o desbalanço entre a demanda e a oferta para computação ligada a nuvem pública”.

“Ao mesmo tempo, cada vez mais veremos os chamados mercados de Tier II se afirmarem, as regiões metropolitanas como Porto Alegre, Curitiba, Brasília, que ainda são significativamente sub dimensionadas. Quanto ao perfil populacional, matriz energética e geração de renda, o Brasil é e continuará sendo o gigante do setor de Data Center na América Latina. É claro que Santiago, Querétaro e Bogotá estão se desenvolvendo cada vez mais, porém as oportunidades no Brasil são maiores, em termos de volume de demanda energética e tamanho de mercado”, disse Lombardi.

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Alessandro Lombardi, Elea Digital

O CEO da Elea Digital ressaltou qual será, em sua opinião, o principal desafio para o setor no próximo ano. “Atender os prazos de entrega dos novos sites planejados frente a desaceleração da cadeia logística internacional, que não permite a chegada de equipamentos de ponta nos prazos previstos, será um desafio. Nós fizemos questão de comprar (e receber) os equipamentos necessários em 2022, visando nossas entregas de 2023 e 2024. Quem não comprou ainda, vai acabar se atrasando”, disse.

Vice-presidente de Operações da Ascenty, Marcos Siqueira também destaca a expansão de investimentos da indústria no país. “Vemos muito crescimento para o Brasil, assim como para a América Latina. O Brasil possui um mercado mais consolidado que os outros países da região e vemos interesse de empresas multinacionais de conectividade de estarem bem localizadas no Brasil”.

Segundo Siqueira, as empresas de Telecom serão o grande meio para que a potencialidade do 5G seja bem aproveitada no país. “Atualmente, temos um crescimento robusto de cerca de 30% ao ano na América Latina. Acabamos de anunciar a nossa chegada na Colômbia, quarto país com nossa presença na região, com o objetivo de fortalecer nossa estratégia de atender e responder rapidamente às demandas de mercado”.

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Marcos Siqueira, Ascenty

Ele ressalta: “O mercado mudou e novas demandas chegaram recentemente com o 5G, Edge Computing, etc. Empresas que não se planejaram com antecedência para esse novo cenário e para o aumento de demanda por data Centers terão dificuldades ao iniciar esse processo”.

Eficiência, automação e robotização

Márcio Kenji, Regional Segment Manager, Cloud & Service Provider, da América do Sul na Schneider Electric, aponta como uma das tendências para 2023 na indústria os esforços de digitalização, elevando a demanda por agilidade e otimização de Data Centers em um mundo cada vez mais automatizado a “um nível recorde”. Segundo ele, neste “novo normal”, os trabalhadores do setor atuam remotamente.

“Com menos funcionários no local e menos trabalho em equipe, os operadores tiveram que acelerar sua busca por maior produtividade e eficiência. A robótica e a automação têm sido uma combinação vencedora para expandir a demanda em muitas indústrias. Os profissionais de Data Center estão adotando cada vez mais essa abordagem, impulsionados pela necessidade de tornar suas infraestruturas de TI mais robustas”. Kenji destaca que a implantação de robótica para automatizar processos de negócios também pode ajudar a reduzir a pegada de carbono e a complexidade da infraestrutura.

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Márcio Kenji, Schneider Electric

Fabiano Tatsugawa Duarte, Diretor de Infraestrutura de Data Center da Claro, também afirma que como priorização para o setor no próximo ano, é fundamental que sejam adotadas práticas de eficiência, considerando especificações de equipamentos de infraestrutura de Data Center e TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) mais eficientes. “O mercado deve focar na evolução de processos, políticas de eficiência e automações, aplicando soluções de Inteligência Artificial e Machine Learning com foco em reduzir consumo de energia e entregar maior eficiência de recursos e disponibilidade”, disse.

Cibersegurança

Marcos Sá, Analista de Tecnologia da Informação e Gerente de Data Center da Wiki Telecom, ressalta como desafio para o próximo ano a segurança, que considera uma das principais preocupações quando se trata de tráfego. “Hoje o número de ataques de ransomware é crescente. Precisamos proteger as informações quanto ao sigilo, referente às transações, trocas de informações, dados sensíveis e as conformidades exigidas pela LGPD. O gerenciamento de desastres é algo que necessita de gerenciamento contínuo em processo de monitoramento do ambiente através de níveis de controle e quanto a estrutura das áreas de facilities”, afirmou.

Consultor sênior do Uptime Institute, Eder Gallardo enfatiza que com o aumento frenético por demanda de dados de qualidade, confiáveis e com alta disponibilidade, a tendência continuará sendo o controle e gestão cada vez mais preciso. “Este crescimento de demanda por qualidade de serviços continuará acelerado, o que na prática e no campo operacional dos Data Centers será, como já acontece, uma procura pela modernização dos sistemas de monitoramento e gestão completa dos ativos”, disse.

Sustentabilidade como política interna

Para Eder Gallardo, o desafio mais evidente para 2023 é que o setor seja mais sustentável. “A gestão dos recursos e a preocupação com a sustentabilidade, como parte integrante do plano global de operações do site e da organização deve se tornar uma realidade no setor. A meu ver, muito se discute e se projeta sobre o segmento de Data Center e a sua relação com a sustentabilidade há anos, porém na prática, poucos estão adotando medidas efetivas nessa direção”, disse.

Segundo Gallardo, a sustentabilidade “deve ser inserida no plano global dos Data Centers desde sua concepção e levado em conta no dia a dia, com administração do consumo consciente e adoção de fornecedores sustentáveis”. “A política interna de sustentabilidade deve ser parte do portfólio das organizações para que saia do discurso e do papel e tornem-se medidas práticas e efetivas”, concluiu.

Para Marcio Kenji, Regional Segment Manager, Cloud & Service Provider, da América do Sul na Schneider Electric, reduzir o impacto ambiental também é a principal tendência em Data Centers para 2023.

“Existe a necessidade de desenvolvimento de novas infraestruturas, sendo que os projetos devem considerar os Data Centers irão precisar considerar seu carbono incorporado - a soma de todos os Gases de Efeito Estufa (GEEs) resultantes da coleta, fabricação, transporte e instalação de materiais de construção”, explicou Kenji.

Ele citou uma pesquisa da Schneider Electric, e da consultoria de pesquisa de mercado Canalys, que mostra que embora os parceiros de canal de TI estarem investindo em estratégias de sustentabilidade, ainda lutam para traduzir o investimento em ação e, por isso, não possuem uma resposta clara sobre como atingir tal objetivo.

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Eder Gallardo, Uptime Institute – Eder Gallardo, Senior Consultant do Uptime Institute

Os resultados da pesquisa mostraram que 61% das empresas são dedicadas à sustentabilidade, mas apenas um terço estabeleceu metas ESG. Esse estudo revela que em todo o setor de TI há uma lacuna de ações de sustentabilidade. Apesar de os profissionais do segmento já entenderem a importância de criar planos e metas mensuráveis para viabilizar a mudança necessária para um futuro mais sustentável, faltam ações concretas”, explicou Kenji.

Formação de talentos deve ser prioridade

Fabiano Tatsugawa Duarte, Diretor de Infraestrutura de Data Center da Claro, também destaca como ponto chave para o próximo ano, a formação de talentos. “Os principais desafios devem estar na infraestrutura, destacando a disponibilidade de energia, pessoas capacitadas e tempo de resposta para atender demandas do mercado”. Segundo ele, com o crescimento do setor, “temos observado restrições relacionadas à energia disponível para crescimento e em profissionais capacitados para trabalhar na área”.

“Será importante que o mercado se prepare para as questões de energia e invista cada vez mais no desenvolvimento das pessoas. Outro ponto relevante são os prazos envolvidos no fornecimento de equipamentos, que demandam um planejamento assertivo para reduzir os riscos de impacto nos prazos de atendimento aos clientes”, afirma Tatsugawa.

Eder Gallardo, do Uptime Institute afirma que o mercado brasileiro vem se destacando na América Latina. “Temos profissionais cada vez mais especializados, preocupados em ampliar a qualidade das construções e, consequentemente, cada vez mais preocupados em fazer uma gestão das operações e manutenção à altura desta construção”, disse.