Quando a Internet começou a se expandir nos anos 90, muitas pessoas aguardavam ansiosamente a chegada de um novo membro da família: o computador pessoal. Junto ao entusiasmo, havia medo no ar. A máquina substituiria os trabalhadores, tornaria obsoletos os livros de papel e acabaria com as reuniões familiares presenciais? Até que ponto a Internet mudaria as nossas vidas?

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– NTT Data

A possibilidade de que as tarefas realizadas pelo homem fossem automatizadas por máquinas e robôs era uma preocupação constante. Mas, mesmo que algumas profissões foram substituídas pela tecnologia, a maioria dos trabalhos não desapareceu. Ao invés disso, a tecnologia tornou-se uma ferramenta complementar que ajudou os trabalhadores a executarem tarefas de forma mais eficiente.

Anos mais tarde, testemunhamos o boom do surgimento de novas ferramentas de IA, como o ChatGPT da OpenAI, entre outras iniciativas de grandes empresas - como a Microsoft, Google e Amazon - com uma ampla gama de serviços para o desenvolvimento de aplicações de IA.

No mundo do Data Center, vemos também a implementação de novas ferramentas de automação, que simplificam tarefas, reduzem as falhas humanas e o tempo de trabalho.

Segundo a empresa de consultoria Gartner, até 2025, a metade dos Data Centers em nuvem implementará robôs avançados com Inteligência Artificial e Machine Learning, resultando em 30% de maior eficiência operacional. Conforme a organização, 70% das empresas utilizarão ferramentas de automação na sua infraestrutura.

As novas ferramentas de IA poderiam, então, substituir o operador de Data Center? A DCD conversou com especialistas da indústria sobre o assunto.

Demanda por operadores atingirá 2,3 milhões

De acordo com um relatório recente do Uptime Institute, é provável que o Data Center enfrente uma contínua escassez de trabalhadores, mesmo quando a IA se torne cada vez mais predominante na administração. A demanda por operadores humanos aumentará para 2,3 milhões até 2025, mesmo quando mais de 90% dos executivos de TI esperam que a IA assuma muitas das tarefas rotineiras e repetitivas de gerenciamento de dados e infraestrutura. De acordo com os entrevistados da DCD, o operador de Data Center precisará se adaptar às mudanças.

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Alex Sasaki, Vertiv

Para Alex Sasaki, Diretor de Aplicações Tecnológicas e Gestão de Vendas da Vertiv na América Latina, as ferramentas complementarão o desempenho dos operadores de Data Centers.

"O avanço tecnológico sempre criou carreiras e a necessidade de profissionais qualificados. Hoje, vemos vários trabalhos relacionados às novas tecnologias, como Big Data, mídia digital e aplicações de serviços que não existiam há uma década", explica Sasaki, que acrescenta: "Novas ferramentas como Inteligência Artificial e novas tecnologias de monitoramento complementam as atividades realizadas pelos profissionais e ajudam na tomada de decisões. É importante investir em treinamento e atualização para os profissionais poderem utilizar todo o potencial dessas novas ferramentas".

Custo elevado

Juan Felipe Echeverri, Coordenador de Data Center da GTD Colômbia, ressalta que a implementação destes sistemas tem um custo elevado em primeira instância. "Se compararmos com o valor de ter mão de obra qualificada no local, seria muito mais barato, olhando do ponto de vista das áreas administrativas e gerenciais da empresa".

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Juan Felipe Echeverri, GTD Colombia

De acordo com Echeverri, o profissional do Data Center deve estar em treinamento contínuo. "Como complemento às habilidades eletromecânicas previamente desenvolvidas dentro do Data Center, é importante começar a incluir no plano de treinamento, tópicos relacionados ao controle e configuração de sistemas automáticos, robótica e Inteligência Artificial, pois esta é uma tendência no mercado de Data Center a médio prazo. Na verdade, há poucas empresas de Data Center que têm o seu próprio pessoal com conhecimento e experiência sobre este tópico específico".

Pablo Casado De Las Heras, Chefe Global de Data Centers & Core Sites da Telefónica, ressalta que o setor já vem se automatizando há anos. "Prova disso é que o número de pessoas trabalhando em um Data Center, encarregado das instalações, está diminuindo. A chegada da IA e/ou Machine Learning certamente aprofundará esta máxima de eliminar pessoas tanto quanto possível, a fim de reduzir a falha humana", explica Casado, que acrescenta: "Em qualquer caso, sempre haverá um número mínimo de recursos (este já é o caso em muitos Data Centers) e, por outro lado, estas tecnologias exigirão a capacitação do pessoal no funcionamento destas aplicações, e também serão necessários especialistas para integrá-las nas instalações".

De acordo com o Chefe Global de Data Centers & Core Sites da Telefónica, embora representem mudanças, as ferramentas não são uma ameaça. "Sinceramente, não as considero uma ameaça aos empregos, sempre penso que a tecnologia, embora no início possa ser uma mudança de paradigma e gerar dúvidas, no final sempre facilita o trabalho. E uma vez implementada é evidente que o trabalho é mais eficiente e, portanto, melhor".

Leandro Sulinscki, VP de Pessoal e Administração de Centro de Dados da Scala Data Centers, diz que a sinergia entre tecnologias e capital humano qualificado é essencial para manter o crescimento constante do Data Center. "A adoção destas ferramentas é uma oportunidade para melhorar o mercado como um todo. A aplicação de novas ferramentas de automação, robótica e IA é um caminho natural. Entretanto, este processo requer profissionais altamente qualificados, capazes de trabalhar com projetos cada vez mais complexos", disse ele.

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Leandro Sulinscki, Scala Data Centers – Scala Data Centers

Segundo Sulinscki, as tecnologias são muito importantes para trazer mais qualidade, segurança e eficiência às operações, além de ajudar a reduzir os riscos inerentes às operações das empresas de Data Center. "Portanto, os profissionais dos Data Centers dos próximos cinco anos precisarão ser capazes de aplicá-las e gerenciá-las", disse Sulinscki.

Como deve ser o perfil do profissional do Data Center automatizado?

Para Andrés Mendoza, Gerente Técnico Regional da Manageengine Colômbia, a pandemia forçou os gerentes e operadores do Data Center a aprenderem, em um curto período, a implementar várias aplicações e infraestruturas. "Algumas dessas infraestruturas são críticas, outras nem tanto, mas a realidade é que tivemos que mudar o modelo de trabalho para tornar qualquer tipo de informação disponível em qualquer lugar. Na pandemia, começamos a ouvir falar de nuvens híbridas ou ambientes híbridos, e surgiu a necessidade de automação e otimização. Tivemos que diminuir a quantidade de tarefas manuais que uma pessoa fazia".

De acordo com o Gerente Técnico Regional, com ferramentas de automação, não há apenas uma pessoa atrás de uma tela para ver se há um alarme vermelho ou se tudo está funcionando. "Exigimos que estes profissionais tenham uma visão de automação, segurança e também que saibam como estas aplicações estão fazendo para entregar métricas. Para apontar onde precisamos melhorar, para reduzir uma carga, o tempo de resposta, para não termos que sofrer tanto como antes. Quando houver uma falha, encontraremos a causa raiz e tentaremos mitigar o impacto".

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Andrés Mendonza, ManageEngine – Linkedin

De acordo com Mendoza, as ferramentas exigem mais experiência do pessoal. "O operador terá que se concentrar em problemas mais complexos e estar bem treinado para lidar com este tipo de situações ou exceções. Os seres humanos vão crescer internamente, e nossas habilidades vão resolver problemas mais complexos, trabalhando de mãos dadas com a automação".

Ele conclui: "Alguém que era especialista em infraestrutura física há 10 anos, hoje deve se adaptar e ter esse conhecimento, montando internamente a estratégia de treinamento contínuo. As certificações nos ajudam, mas elas não são o único método, alguém interno também pode transmitir este conhecimento. Compartilhar o know-how também é importante, e as organizações devem pensar sobre isso".

O que diz o ChatGPT?

Para encerrar o relatório, perguntamos ao ChatGPT: A inteligência artificial vai substituir o operador do Data Center?

Esta foi sua resposta:

"É improvável que a inteligência artificial (IA) substitua completamente os profissionais dos Data Centers num futuro próximo. Embora a IA esteja avançando rapidamente e esteja sendo cada vez mais utilizada no setor de centros de dados, ainda são necessárias habilidades e conhecimentos especializados para manter e gerenciar um centro de dados de forma eficaz.

Os profissionais do centro de dados têm habilidades em áreas como gerenciamento de rede, virtualização, segurança, gerenciamento de servidores e armazenamento de dados, essenciais para manter um centro de dados funcionando de forma segura e eficiente. Embora a IA possa automatizar alguns desses processos, uma equipe humana ainda é necessária para supervisionar e executar tarefas mais complexas, tais como solução de problemas, otimização da eficiência energética e implementação de novas tecnologias.

Ao invés de substituir os profissionais do Data Center, a IA poderia ajudar a melhorar sua eficiência e produtividade, automatizando algumas tarefas repetitivas e permitindo que eles se concentrem em tarefas com maior valor agregado. Além disso, a IA também pode ajudar os profissionais do data center a tomar decisões mais informadas, fornecendo-lhes dados e análises em tempo real sobre o desempenho e a eficiência do data center.

Conclusão: Os seres humanos e a IA estão de acordo.