Fundado em 1987, o Uptime Institute está sediado em Nova York, com escritórios em Seattle, Londres, Dubai, Singapura, Taipei e São Paulo. Originalmente formado como uma consultoria de data center e fundador da mais antiga organização composta por proprietários e operadores de data centers, hoje o Uptime Institute é a autoridade máxima global para infraestrutura digital, tendo criado em 1996, o Tier Standard Topology hoje o padrão global mais confiável e consequentemente, mais adotado pelo setor de TI para design, construção e operações eficazes de data centers.

“Com as primeiras certificações de construção Tier II e Tier III sendo realizadas em 2003, seguido pelo primeiro site Tier IV em 2004, desde então, o Uptime Institute certificou mais de 2.500 sites em 110 países”, destaca Eder Gallardo, Senior Consultant do Uptime Institute, acrescentando que o Tier Standard é baseado em desempenho e, portanto, flexível para a indústria, que está em constante mudança. “Isto porque novas abordagens tecnológicas podem ser implementadas, desde que a infraestrutura resultante continue a atender ao mesmo objetivo projetado”, completa.

O Tier Standard é composto pelos níveis: Tier I, Tier II, Tier III e Tier IV, cada um deles é incremental ao outro, oferecendo a oportunidade de manutenção e tolerância a falhas, desde o nível mais básico, até o mais elevado, que é o Tier IV.

O padrão criado pelo Uptime Institute não é prescritivo a qualquer solução de design para que se atenda aos requisitos de disponibilidade, redundância e tolerância a falhas. A amplitude permite que uma grande variedade de soluções de infraestrutura e sistemas sejam incorporadas e atendam às metas de uma organização para as operações de TI, custos, sustentabilidade e disponibilidade.

A classificação Tier é neutra em tecnologia e não exige ou depende de nenhum conjunto fixo de tecnologias. Os padrões Tier são abrangentes a soluções de sistemas e engenharia de data centers, como as configurações modulares, Open Compute Project Foundation (OCP) e abordagens de energia e ar-condicionado de ponta. Imparcial em nível de fornecedores, o Tier Standard não tem vínculo com hardwares ou fabricantes, o que permite que os critérios Tier Standard sejam neutros.

A natureza baseada no desempenho das normas Tier dá às empresas flexibilidade para cumprir os requisitos, códigos e regulamentos locais, enquanto desfrutam da certificação completa Tier e dos benefícios comerciais associados.

A certificação Tier sofreu alguma alteração importante ao longo dos anos?

O Tier Standard e a Certificação Tier passaram por uma série de mudanças ao longo dos anos, a maioria delas em escopo e de pequena proporção, voltadas para um melhor atendimento aos nossos clientes, aumentando a resiliência e reduzindo o risco. Agora também podemos realizar avaliações remotas parciais para clientes selecionados, dependendo de suas necessidades internas e de acordo com o ambiente.

Gostaria que você falasse sobre o processo de avaliação. Como é feito?

Existem três tipos de certificação que compõem o pacote completo com três passos importantes para uma operação eficaz de data center. O primeiro deles é a certificação de desenho de projeto, o Tier Certification of Design Documents (TCDD), que se baseia em um conjunto rigoroso de critérios que cobrem elementos do site como os sistemas mecânicos, elétricos e estruturais, conforme definidos no Tier Standard de Topologia. Nossos especialistas analisam documentos de projeto e oferecem suporte de consultoria para orientar um projeto final, que esteja em conformidade com a classificação de Tier desejada pelo cliente. Além disso, ele recebe recomendações para aprimorar a área de operações - Operational Sustainability para um desempenho robusto do site a longo prazo.

A segunda etapa do processo é a certificação de construção, o Tier Certification of Constructed Facility (TCCF), que inclui demonstrações dos sistemas sob condições reais, validando o desempenho do site, de acordo com o objetivo Tier projetado. O prêmio se baseia na análise dos vários critérios mecânicos e elétricos da infraestrutura, conforme definidos no Tier Standard: Topologia.

A Certificação Tier de construção se integra à programação do projeto. O processo garante que as deficiências no design sejam identificadas, resolvidas e testadas antes que se dê início às operações, quando as consequências de uma falha podem ser muito significativas, trazendo impactos no site, gerando custos nos negócios e uma má percepção do mercado.

A Certificação Tier de construção permite que sejam abordados todos os limites do site, trazendo tranquilidade ao proprietário que, sabendo que não existem riscos de quedas ou outras fragilidades imprevistas em sua infraestrutura, operará de modo mais eficaz sua instalação crítica.

O terceiro passo, é a certificação de operações - Tier Certification Operational Sustainability (TCOS), que oferece aos proprietários, operadores e gerentes de data centers com Certificação Tier, a avaliação dos comportamentos e riscos prioritários intrínsecos às operações de data centers e serve como um guia essencial para operações eficazes e eficientes. Isso ajuda a garantir que uma instalação de data center bem projetada e bem construída, também opere de uma maneira que trará como resultado, os níveis de produção esperados, ou seja, uma operação alinhada com o objetivo do projeto e da construção.

Proprietários e operadores que ganham a Certificação Tier de Sustentabilidade Operacional demonstraram capacidade de planejar a produção ininterrupta, ou seja, produção contínua em condições operacionais normais, definidas pela própria Certificação Tier. A certificação de Operational Sustainability dos data centers é uma avaliação da utilização de dados, infraestrutura de software, sistemas operacionais, redundância e outros componentes da instalação para identificar possíveis origens de perda de disponibilidade não planejada.

O Uptime Institute conduz auditorias de conformidade operacional de data centers e compartilha as percepções sobre as melhores práticas para ajudar as organizações a obter mais confiabilidade para todas as partes envolvidas.

O proprietário receberá todas as recomendações para que seu site seja operado no nível de sua infraestrutura, e receberá o selo de certificação operacional que poderá ter o nível Ouro, Prata ou Bronze, com 3, 2 e 1 ano de expiração de acordo com estes níveis.

Quais são os benefícios centrais no processo de certificação?

Obter uma classificação de Tier sinaliza para investidores, clientes e para o mercado que sua instalação cumpre com os mais elevados padrões de funcionalidade e capacidade de infraestrutura (Topologia), conforme indicado nos documentos de projeto. Ela confirma que o projeto do sistema é consistente com seus objetivos de disponibilidade. A Certificação Tier ajuda a alinhar o projeto de infraestrutura à missão de negócios, garantindo que o importante investimento de capital de sua organização produza o resultado desejado na prática.

A certificação é abrangente para projetos de data centers, demonstra que uma organização está engajada em minimizar ao máximo a possibilidade de perda de disponibilidade não planejada e gastos desnecessários em sua instalação crítica. Também garante a todas as partes envolvidas que a estratégia de sistema é bem definida e que está aprovada nas avaliações mais minuciosas de especialistas externos do setor.

No caso do TCOS, busca-se eliminar os erros humanos, causa responsável pela maioria de todos os incidentes em data centers. A excelência operacional consiste, em grande parte, em manter a disciplina e a consistência ao longo do tempo e adaptar-se com sucesso às mudanças do ambiente. Em uma instalação certificada TCOS, as equipes alinham suas práticas para torná-las escaláveis em toda a organização, criando disciplina e uma cultura de melhoria contínua.

No Brasil qual é o nível mais popular da certificação e por quê?

O Tier III, principalmente pelo custo-benefício que este nível traz. Segurança na disponibilidade sem os riscos que um Tier II pode trazer com um custo mais atraente que o Tier IV.

Quais data centers no Brasil possuem o nível Tier IV?

Sim, temos o Banco Santander em Campinas e a Telebras em Brasília (TCDD e TCCF). A opção por este nível Tier é baseada no objetivo do negócio de cada um.

O número de empresas brasileiras que busca a certificação tem crescido? Como o Uptime Institute avalia a competitividade entre as empresas de data center no Brasil?

Sim, tem sido crescente a procura pelas certificações, inclusive na área de operações, até porque o mercado pede isso, ou seja, a demanda surge pela exigência dos usuários finais, impulsionando os proprietários ao investimento na segurança de suas instalações.

A pandemia gerou um crescimento importante no zelo com a entrega de disponibilidade e eficiência dos data centers.

Como pioneiros na certificação, baseada nos standards Tier Uptime Institute de Topologia e Operações, vejo que não há uma concorrência direta, já que as cerificações não podem ser comparadas.

Outros tipos de certificações surgiram, mas sem sombra de dúvida, ter o selo do Uptime Institute é um diferencial de mercado pois, não trata-se apenas de uma certificação, mas sim de uma consultoria completa, com análise minuciosa de projeto, provas comprobatórias de infraestrutura construída de funcionamento em campo e, na certificação de operações; entrega uma ferramenta de medição de desempenho, na qual o proprietário poderá realizar, de tempos em tempos, uma autoavaliação, buscando sempre a melhoria contínua.

De qual nicho de mercado vem a maior demanda: telecomunicações, provedores de colocation ou setor financeiro?

Temos grandes data centers certificados e importantes grupos que se destacam, já que as exigências do setor de provimento de dados confiáveis está cada vez mais em alta. A IoT, aplicações empresariais, o alto consumo de banda impulsionam o mercado, trazendo usuários cada vez mais exigentes e sedentos por disponibilidade, capacidade e velocidade. Telecomunicações, Colocation e o setor financeiro são os que nos procuram em um nível considerável, tanto no Brasil como na América Latina.

Em 2011 o Uptime Institute implantou uma comunidade no Brasil para observar o mercado local. De lá pra cá, como o Uptime avalia o mercado de data center brasileiro? Amadureceu?

Sem dúvida. O mercado brasileiro de data centers é considerado maduro, pois teve uma importante evolução nos últimos 10 anos, tendo crescido surpreendentemente nos últimos cinco anos, impulsionado pelos eventos esportivos sediados no país, como a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016).

Muitas empresas também se mobilizaram e fizeram investimentos significativos em data center. Com a pandemia de Covid-19, houve aumento da demanda por serviços digitais, o que gerou um crescimento frenético e o Brasil se tornou líder no mercado LATAM.

O mercado de data center brasileiro carece de mão de obra qualificada?

Mesmo estando no topo da América Latina, o mercado de data centers do país ainda tem um caminho longo a percorrer quando se trata de "Sustentabilidade Operacional". Não podemos pensar somente na maturidade construtiva, crescimento de capacidade de colocation, metros quadrados, capacidade ou quantidade de salas de computadores. É importante dizer que esta maturidade deve estar acompanhada da maturidade operacional, sem a qual, podemos criar uma bolha de risco, difícil de administrar, depois de explodir.

Não adianta ter uma instalação moderna, gerenciada e operada por uma equipe despreparada.

Do ponto de vista operacional, acredito que uma parcela do mercado brasileiro ainda precisa amadurecer e entender a importância de preocupar-se em preparar-se operacionalmente para trabalhar com excelência para esta nova demanda, muito mais exigente e, certificar-se que suas operações estão preparadas para enfrentar novas crises.

Que empresas mais se destacaram na obtenção da certificação no Brasil?

A Dataprev sem dúvida é um case muito interessante, desde 2015 realizamos as certificações da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social em todos os seus três sites: São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Também executamos as renovações das certificações de operações – TCOS e, a evolução da Dataprev é notável tornando-se uma referência por seu alto nível operacional, alcançado com muita dedicação. Inclusive, a Dataprev é um dos nossos cases de estudo, divulgados pela Uptime Institute.

Outro destaque é o Itaú Unibanco com o Centro Tecnológico Mogi Mirim (SP) certificado em design, construção e operações e renovados com nível Gold.

Existem muitas outras, como por exemplo a Equinix e a Ascenty, do segmento de Colocation, que têm muitos dos seus sites já certificados em design e construção.