As constantes previsões de menor oferta de matrizes tradicionais de energia e os alarmantes impactos do aquecimento global, causados pelas emissões de gases poluentes das fontes não renováveis, vêm motivando empresas de data center a buscarem fontes alternativas para o fornecimento de energia, nos últimos anos.

Ganhando destaque entre as novas fontes de energia limpa, a Cogeração é hoje o processo mais comum de produção de eletricidade e energia térmica a partir do uso de gás natural ou de biomassa.

Produção simultânea e sequenciada, de duas ou mais formas de energia a partir de um único combustível, os sistemas de Cogeração de energia vêm crescendo cada vez mais e são uma tendência mundial. Entre as principais vantagens, estão a possibilidade de geração própria de energia elétrica e a elevada eficiência energética que o sistema proporciona, convertendo combustíveis tanto em energia térmica útil quanto em energia elétrica. Além de menor nível de emissão de poluentes comparado com a geração termelétrica centralizada, e maior aproveitamento do produto (de 70 a 85% da energia da queima do GN).

Segundo dados da Cogen, o Brasil conta com 640 usinas para Cogeração, o que totaliza 19,78 GW de capacidade instalada e corresponde a 10,8% da matriz elétrica brasileira (182,97 GW). Isso equivale a 1,4 vezes o total da capacidade instalada da usina hidrelétrica de Itaipu. A projeção para todo o ano de 2022 é de entrada em operação comercial de 807,18 MW.

No ranking por unidades da federação de Cogeração por biomassa, o Estado de São Paulo lidera a lista com 7,5 GW instalados. Em segundo está o Mato Grosso do Sul, com 1,9 MW instalados. Na sequência vem Minas Gerais (1,7 GW instalados), Goiás (1,4 GW instalados) e Rio de Janeiro (1,3 GW instalados).

“Um processo de Cogeração em um Data Center é uma opção interessante de complemento de consumo energético. Isto é, ele não vai tornar o Data Center independente de consumo externo de energia, mas apoia na diminuição da demanda provinda das concessionárias. Mas é necessário que o processo de Cogeração seja escolhido desde os estudos conceituais do Data Center, levando em consideração diversos fatores que irão impactar na implementação desse sistema e estudo de sua viabilidade econômica”, avalia Mark Breno, Gerente de Vendas e Desenvolvimento de Negócios para o Segmento de Data Center da ABB.

Que vantagens tem a Cogeração em relação a outras fontes de energia renovável no Data Center?

Mark Breno: A Cogeração utiliza uma energia que, em tese, seria desperdiçada para geração de energia. O calor gerado por geradores e chillers podem ser reaproveitados para contribuir com a geração de energia do Data Center e melhorar seu consumo energético vindo da rede concessionária. Uma das vantagens é a redução dos custos com energia, melhor aproveitamento de fontes de energia que seriam utilizadas de qualquer forma dentro do Data Center (como diesel e gás usado em geradores, calor gerado por máquinas em geral, etc) e melhoria na eficiência energética das instalações.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil lidera a geração de energia limpa entre os países do Brics. Com uso de energia renovável chegando a quase 50% da matriz energética brasileira. Com esses dados, a indústria de data center brasileira pode ficar tranquila ou ainda é pouco?

M. B.: Isso certamente traz uma tranquilidade para a indústria de Data Center, tendo em vista que a quantidade de potência disponível para futuro consumo ainda é muito grande. Segundo notícia recente do DCD, já existe aproximadamente 438MW de capacidade instalada de Data Center no Brasil. E não para por aí, esse mercado está em franca expansão e nada indica que alcançará estabilidade num cenário de curto prazo. Ou seja, continuaremos tendo investimentos de grandes grupos no Brasil e a representatividade dessa carga no sistema continuará crescendo. Ter a possibilidade de escolha de compra de energia de fontes renováveis é fundamental para este segmento e isso esbarra na oferta dessas fontes. Segundo estimativas, dos 11% de crescimento de capacidade instalada previsto até 2026 pelo ONS, mais de 60% são de fontes renováveis como solar, eólica e biomassa. Isso mostra que o país está no caminho certo no processo de diversificação de sua matriz energética e na adoção de fontes mais sustentáveis e com menos impacto ambiental.

Além da Cogeração, que outra fonte de energia limpa seria uma opção viável para as empresas?

M. B.: Com a flexibilização regulatória e a maior facilidade de as empresas adentrarem no mercado livre de compra de energia, somada a alta interconectividade que existe no Sistema Interligado Nacional (SIN), uma empresa brasileira pode fazer análises de diversos cenários e ofertantes de energia para obter uma vantagem competitiva, com tarifas de energia mais interessantes, como também associar a necessidade de adequação as políticas sustentáveis do seu plano estratégico. Os Data Centers podem obter contratos interessantes de curto, médio e longo prazo das fontes que desejarem, entre as diversas disponíveis, para compor seu consumo de energia. Além de diferentes tipos de contratos, é possível buscar o melhor cenário para otimizar os custos operacionais do sistema. Independente da fonte ser solar, eólica ou biomassa, todas elas apresentam fatores competitivos não só tarifário, mas também de adequação às políticas de ESG.

Que fatores hoje no Brasil são impeditivos para muitas empresas, quando estas decidem tornar seus data centers verdes?

M. B.: Acreditamos que o fator mais importante, seja com relação a alocação de custos em diferentes áreas das empresas de Data Center, muitas vezes o cliente foca no custo de implementação (Capex) e não leva em conta o custo operacional (Opex), e na maioria das vezes os equipamentos e soluções de maior eficiência energética representam um custo inicial superior aos equipamentos de tecnologia mais antiga e menos eficientes, consumindo muito mais energia ao longo de sua vida útil, e o custo da energia em nosso país é algo bem representativo no momento de aprovação de novos investimentos e expansões de Data Centers. É um ponto importante para ser analisado sobre qual a melhor razão entre custo versus benefício no longo prazo de operação. Pelos nossos dados, o retorno sobre o investimento de equipamentos de tecnologias mais avançadas e eficientes se paga muito antes em comparação a equipamentos menos eficientes ao longo da vida útil do sistema.

Qual é a primeira iniciativa a ser tomada para tornar o data center verde?

M. B.: Acreditamos que a primeira iniciativa seja aumentar a eficiência energética, visto que a energia é o insumo principal da operação dos Data Centers. Desta maneira se conseguirmos reduzir aos níveis  mínimos as perdas dos equipamentos e soluções já conseguiremos usar a energia de uma maneira mais racional, inteligente e menos onerosa a operação. Para isso a ABB oferece soluções “best in class” para atingimento deste objetivo e a busca incansável pelo menor PUE (uso eficiente da energia) possível, mesmo com cargas baixas nossas soluções já atingem altos níveis de eficiência o que para o Data Center é primordial por questões de redundância, confiabilidade e segurança do sistema. Além de ferramentas de monitoramento, medição e controle como o ABB Ability, uma vez que não podemos controlar o que não medimos. Além da melhoria da eficiência, o consumo de energia de fontes limpas e renováveis também é uma importante iniciativa para transformação sustentável desse segmento.

Qual é o papel das renováveis neste cenário?

M. B.: Mesmo com uma boa capacidade ociosa do sistema de geração, isso não significa que os investimentos em novas fontes de geração de energia não são necessários. Muito pelo contrário, devido a alta dependência do sistema às fontes hídricas de geração, é necessário que a matriz energética brasileira continue se diversificando e seja melhor distribuída. É aqui que as novas fontes de energias renováveis como solar, eólica e biomassa entram em cena para apoiar o processo de diversificação e menor dependência dos cenários meteorológicos e índices pluviométricos do país. Além de apoiar um futuro mais sustentável e limpo, as fontes de energia renováveis têm grande potencial de crescimento no país. Há diversos projetos já outorgados pela ANEEL que podem entrar em futuros leilões de energia ou, no caso do mercado não regulado, receberem liberação para construção nos próximos anos. Certamente essas fontes de energia renovável terão papel importante para as políticas das empresas do segmento de Data Center e na busca pela sustentabilidade de suas instalações e operações.

Qual é o perfil do cliente brasileiro hoje? Ele exige no contrato iniciativas sustentáveis por parte da empresa contratada?

M. B.: Notamos que muitos clientes hoje têm se preocupado com o custo total de aquisição e por isso não está levando somente em conta o custo no momento inicial das operações, mas também se preocupa com expansões e o custo total de toda a vida útil do Data Center. Por isso, os clientes estão buscando soluções mais sustentáveis, com menor impacto ambiental, menor desperdício na cadeia produtiva e com uma mensagem de uso dos recursos naturais mais consciente. Por isso, existem clientes que analisam uma matriz de diferentes fornecedores onde iniciativas sustentáveis e de ESG têm um peso importante na decisão final, não sendo simplesmente uma decisão focada na melhor solução técnica e comercial.

Já as empresas, elas exigem de seus fornecedores tecnologias sustentáveis?

M. B.: Aproveito para compartilhar que a ABB tem em seu plano global para 2030, fortes objetivos e compromissos com a diminuição da emissão de gases, preservação de recursos naturais, diversidade, inclusão social, integridade e transparência no modo de fazer negócios, um exemplo disso é que a ABB globalmente reduziu em 39% sua emissão de gases comparado à base de 2019. Todas estas iniciativas proporcionam para os nossos clientes finais uma imagem alinhada ao que muitos já tem como pré-requisito para seus fornecedores.