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A DataCenterDynamics realizou uma pesquisa de mercado para analisar a construção de Data Centers na América Latina.

Neste estudo, a DCD investigou os desafios enfrentados na construção de centros de dados, identificou as áreas prioritárias de investimento das empresas na região, determinou os países com condições mais favoráveis para a construção desses centros, explorou as tendências de design e as tecnologias mais predominantes, e avaliou o impacto da inteligência artificial no setor. Especialistas de diversos países da América Latina participaram da pesquisa.

De acordo com o relatório, os principais desafios na construção de data centers na região são: escassez de capacidade energética (17,73%), criação de projetos sustentáveis (15,76%), falta de mão de obra qualificada (15,52%), licenças governamentais (13,05%), atraso na entrega de materiais (10,10%), infraestrutura de conectividade (9,85%), seleção de local (9,36%), ausência de incentivos fiscais (8,37%) e outros (0,25%).

A grande maioria dos entrevistados na América Latina, com um percentual significativo de 63,82%, planeja investir na construção ou expansão de data centers nos próximos meses. Esta resposta reflete uma atitude muito positiva e sugere um notável dinamismo no setor, com investimentos em vários países, apesar dos consideráveis desafios apresentados.

Segundo o relatório, a maioria dos investimentos está localizada no México, com 22,77%, seguido pelo Brasil (13,86%), Chile (11,39%) e Colômbia (7,92%). No caso do México, de acordo com outro estudo da DCD, espera-se um investimento direto de 7.053 milhões de dólares até 2027 na indústria de data centers. Deste total, 3.089 milhões de dólares já estão em processo de construção, enquanto 3.964 milhões de dólares representam o montante total do investimento planejado e/ou anunciado. Em 2023, o Brasil se destacou como o país latino-americano com o maior número de inaugurações de data centers, incluindo instalações de empresas como Scala Data Centers, ODATA, Ascenty, Elea Digital e V.tal.

Quais países possuem as melhores condições para a construção de um Data Center?

O Brasil lidera como a opção preferida da maioria dos entrevistados, com 24,72%. O crescimento contínuo dos serviços digitais, computação em nuvem, IA e outras tecnologias de ponta impulsionaram significativamente a demanda por infraestrutura de data centers no país, especialmente em capitais como São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Depois do Brasil, os países que apresentam as melhores condições para a construção de um centro de dados na América Latina são os seguintes: México (21,63%), Chile (17,13%), Colômbia (10,11%), Argentina (5,62%), Peru (5,06%), Uruguai (4,49%) e Costa Rica (3,65%).

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Antônio Bob, Edgefy

Antonio Lopes Bob, CEO da Edgefy, afirma que um movimento significativo no mercado brasileiro é a atração de novos players interessados no crescimento da demanda por processamento. Essa tendência não se restringe apenas ao Brasil, mas se estende por toda a América Latina.

“Como resultado, a demanda por data centers de alta disponibilidade, eficiência e rápida implementação está em ascensão, exigindo uma expansão regional além do eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Os mercados do Sul e Nordeste estão atraindo novos investidores, impulsionando assim uma ampliação da rede de conectividade e processamento em todo o país”.

Ele acrescenta: “Porém, é importante ressaltar que o cenário enfrenta desafios complexos, como problemas na cadeia de suprimentos, necessidade de formação de mão de obra qualificada, altos impostos e burocracia para a importação de tecnologia e equipamentos”.

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Fernando Madureira, Deerns – Linkedin

Fernando Madureira, Diretor da Deerns na América Latina, afirma que o Brasil possui uma boa disponibilidade de energia se comparado à imensa maioria dos países com um certo grau de desenvolvimento tecnológico. “Porém, esta disponibilidade nem sempre chega na ponta de uso com a velocidade demandada pelo mercado de data centers. Além disso, o Brasil possui regras específicas para a distribuição de energia que são difíceis de encontrar em outros lugares do mundo. Sendo assim, a definição de uma boa estratégia para a solicitação de energia é fundamental para atender aos cronogramas desejados”.

Madureira acrescenta: “Também podemos ressaltar algumas questões de aprovação em órgãos públicos como meio-ambiente, prefeituras e bombeiros. Todos estes desafios devem ser previamente mapeados e mitigados para evitar atrasos na entrega da operação”.

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Eduardo Carvalho, Equinix – Equinix

Analisando o mercado latino-americano, Eduardo Carvalho, Diretor Executivo da Equinix em Latam, disse que a América Latina tem sido a região tecnológica de crescimento mais rápido do mundo. "A indústria de data centers continuará crescendo em 2024. Na Equinix, investimos mais de 1 bilhão de dólares em Latam, o que demonstra que a região é altamente atraente para expandir os nossos data centers e a nossa oferta digital", afirmou Carvalho.

Quais são os principais desafios ao desenhar um Data Center?

A DCD também explorou os desafios-chave durante a fase de design de um centro de dados. De acordo com os participantes, os principais desafios são: disponibilidade de energia (19,26), escalabilidade e flexibilidade (14,94%), escassez de mão de obra qualificada (13,10%), adoção de práticas sustentáveis (11,47%), conectividade (10,82%), evolução tecnológica (9,31%), densidade (8,23%), segurança (7,14%) e crise de abastecimento global (5,63%).

Outro ponto abordado no estudo foi a utilização do piso elevado. Segundo a pesquisa, 49,64% dos participantes indicaram que os seus data centers ainda possuem piso elevado, enquanto 8,51% planejam eliminá-lo. Por outro lado, 41,85% disseram que já não utilizam essa estrutura.

Quanto aos formatos de data centers mais demandados no futuro, os participantes da pesquisa acreditam que o "data center edge", "hiperscala" e "modular" estarão cada vez mais presentes no mercado. Os data centers edge ou de borda estão ganhando cada vez mais relevância na indústria, à medida que as novas tecnologias avançam, os usuários exigem baixa latência e centros de dados próximos ao usuário.

O aumento na geração e consumo de dados na América Latina também impulsionou o crescimento dos data centers hiperescala para atender à demanda de processamento. Numerosas empresas estão investindo nesse tipo de instalações na região. Por outro lado, o conceito de data center modular, outra tendência emergente, oferece flexibilidade e escalabilidade na construção.

Os seus projetos de design e construção de Data Centers incorporam medidas de sustentabilidade ambiental?

Felizmente, a maioria dos entrevistados (73,75%) incorpora medidas de sustentabilidade ambiental nos seus data centers. Os centros de dados consomem grandes quantidades de energia para alimentar servidores e equipamentos de refrigeração. Ao implementar medidas de sustentabilidade, como o uso de energias renováveis e a otimização do uso de energia, é possível reduzir significativamente o impacto ambiental dessas operações.

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Alberto Lopes, Ascenty – Ascenty

“A sustentabilidade segue sendo um tema impulsionado pela preocupação com as mudanças climáticas, tornou-se imperativa, com a adoção de práticas de ESG nos data centers e a implementação de iniciativas para monitorar e controlar o uso de recursos naturais e reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, destaca Alberto Lopes, VP de Projetos de Engenharia e Construção na Ascenty.

Para os participantes da pesquisa, os aspectos mais relevantes no design de um data center sustentável são: capacidade de incorporar energias renováveis (27,17%); gestão adequada do fluxo de ar, sistemas de refrigeração energeticamente eficientes e distribuição otimizada (26,70%); reutilização do calor residual (13,11%); obtenção de materiais de fornecedores locais; redução das emissões de carbono do escopo 3 associadas (12,41%); economia circular (10,30%) e captação e reutilização da água da chuva ou do degelo (9,84%).

Qual é a principal tendência tecnológica no design de Data Centers atualmente na América Latina?

A principal tendência no design de data centers na região é o data center modular, segundo 51,06% dos entrevistados. Um 16,32% optou pela Plataforma BIM, enquanto 22,7% preferiu o uso de sistemas HVAC que empregam refrigeração líquida. Apenas 7,80% dos entrevistados selecionaram os gêmeos digitais como a principal tendência, e 2,12% escolheram a realidade virtual.

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Robson Pacheco, Vertiv – -

“A modularidade é cada vez mais popular para permitir a expansão fácil e rápida do data center em etapas, conforme necessário. Isso pode incluir a utilização de módulos pré-fabricados, que são entregues ao local de construção para montagem”, explicou Robson Pacheco, Data Centers Sales Manager da Vertiv Brasil.

No entanto, de acordo com a pesquisa, mais da metade (53,19%) dos entrevistados não utilizou tecnologias de Data Centers modulares pré-fabricados (PMDC). Outros 29,8% dos participantes utilizaram essa tecnologia, enquanto 17% ainda não a implementaram, mas pretendem fazê-lo. Ainda sobre a modularidade, 48,22% dos participantes apontam a escalabilidade como o principal benefício de implementar uma solução modular.

Que estratégias os Data Centers estão implementando para lidar com as demandas de maior densidade e cargas de trabalho mais intensivas?

Com o avanço da Inteligência Artificial (IA) e outras novas tecnologias, como a Internet das Coisas (IoT), computação em nuvem e análise de dados, presenciamos maiores cargas de trabalho e uma densidade de dados maior nos data centers. Isso ocorre porque essas tecnologias exigem um processamento intensivo de dados e um armazenamento em massa para funcionar de maneira eficiente.

"O uso eficiente dos espaços do data center, concentrando os equipamentos que normalmente são usados de forma isolada e combinando-os num único equipamento, fazendo com que as distâncias entre os equipamentos sejam as mais mínimas possíveis", foi a estratégia escolhida por 61% dos entrevistados para lidar com essa nova realidade.

Também foram destacadas as opções: "uso de blocos de potência maiores para minimizar a quantidade de equipamentos" (21%) e "uso de localizações externas para posicionamento dos equipamentos, especialmente se esses equipamentos farão parte de uma fase futura" (16%).

Qual será o impacto da Inteligência Artificial no processo de design e construção de Data Centers nos próximos anos?

Nesta pergunta, os participantes abordaram diversos fatores que englobam diferentes áreas do data center. Enquanto alguns acreditam que a Inteligência Artificial (IA) terá um impacto significativo, outros consideram que o futuro da IA no data center ainda é incerto ou difícil de prever, e a sua adoção em massa não está clara.

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Rogério Piovesan, V.tal – Linkedin

Para alguns, a IA promete designs ótimos e ágeis, com a capacidade de corrigir erros de maneira eficiente. No entanto, espera-se que esse avanço resulte num aumento na demanda por energia, o que apresenta desafios significativos em termos de refrigeração e consumo de energia.

A integração da IA em projetos de construção também é vista como uma oportunidade para melhorar a eficiência na alocação de tempos e recursos disponíveis, o que poderia resultar em uma redução de resíduos e minimização de atrasos. Além disso, observa-se que a IA pode ter um impacto significativo em áreas-chave como gestão e operações de data centers. Isso inclui a capacidade de fornecer análises em tempo real e previsões baseadas em padrões de dados para otimizar o uso de energia e recursos, bem como na automação de operações e tarefas de manutenção.

Rogério Piovesan, Diretor de Engenharia de Data Center da V.tal, destaca que estamos vivendo o início dessa onda de AI em escala global, porém, já se vislumbra que ela tem um potencial gigantesco de aumentar a demanda por data centers em todo o mundo.

“O crescente aumento na densidade da carga necessária para suprir os requisitos de processamento de AI irá alterar significativamente a maneira de projetar, construir e operar os ativos, não só no Brasil, mas também de uma forma global. Isso impacta diretamente na solução do sistema de cooling dos ativos voltados para essa tecnologia.

Ainda não termos um padrão definido pela indústria de AI também é um fator desafiador na busca de soluções ideais, uma vez que atualmente temos basicamente três tipos de sistemas: i. - rear door heat exchanger; ii. - direct to chip; iii. - immersion)”, explicou Piovesan.

Clique aqui para acessar o estudo completo.