Por Lays Rodrigues

Ampliar a cobertura da telefonia móvel 5G de 0% em 2021 para 57,67% da população brasileira até 2027. Esta foi uma das metas aprovadas no novo Plano Estratégico da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), divulgado em 21 de novembro. No entanto, de acordo com especialistas da indústria, a adoção do 5G no país pode ser mais lenta do que o previsto.

“No Brasil, há um grande interesse em investir no 5G, no entanto, quase a metade das empresas reconhece que isso implica em rearquitetar suas atuais infraestruturas de TI, o que significa que essa adoção pode não ocorrer tão rapidamente”, afirma o Managing Director da Equinix no Brasil, Victor Arnaud. Ele cita que, segundo o GTTS (Global Tech Trends), 64% das organizações incluem o 5G em suas estratégias de negócios, uma vez que “a rede funciona como grande impulsionadora e habilitadora na adoção de outras tecnologias”.

De acordo com relatório do Governo Federal, além de Brasília, outras onze capitais brasileiras estão prontas para lançar a internet 5G sob a perspectiva jurídica e tecnológica. São elas: Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Palmas, Florianópolis, Porto Alegre, Natal, Fortaleza, Aracaju, Boa Vista e Vitória. As demais capitais estão preparando a atualização da legislação ou em fase de adaptação. A internet 5G deve chegar aos 5.570 municípios brasileiros.

O 5G permitirá velocidades de conectividade mais rápidas, menor latência e maior largura de banda, o que transformará as indústrias de vários setores e melhorará as experiencias dos usuários. Serviços que costumávamos ver como futuristas, como a saúde eletrônica, veículos e sistemas de tráfego conectados e jogos avançados nas nuvens móveis chegaram.

Um estudo divulgado pela Ericsson, na última sexta-feira (25), analisou que o retorno econômico do 5G no país será três vezes maior em comparação ao custo da sua implantação no Brasil. O custo total de implementação está previsto em cerca de US$ 6,4 bilhões, enquanto o retorno se estimaria em torno de US$ 18,5 bilhões até o ano de 2035. O retorno inclui diversos setores do Brasil, como o industrial, de logística e rural.

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Victor Arnaud - Assessoria de Imprensa – Foto: Assessoria de imprensa

“Como a primeira geração de tecnologia sem fio capaz de oferecer suporte a aplicativos de negócios com SLAs claramente definidos, o 5G é realmente diferente de tudo que a indústria já viu. Por ser tão único, estamos apenas começando a entender a promessa dos novos aplicativos de negócios que ele pode ajudar a viabilizar”, afirma Victor Arnaud, Managing Director da Equinix.

Márcia Andrade, Principal Interconnection Manager da EdgeUno, ressalta que a implementação do 5G engloba vários aspectos. “Quando se fala em 5G se pensa somente em recepção via satélite, ERB e antenas, mas os dados trafegados precisam ser armazenados, processados e distribuídos. E a partir daí se torna fundamental os equipamentos de Edge Computing e os Data Centers”, explica.

A especialista enfatiza a necessidade de ampliar a rede de infraestrutura a fim de comportar toda a distribuição deste tráfego com conectividade, sistemas computacionais, automação, colocation e infraestrutura em geral para receber equipamentos de redes de transmissão, roteadores e switches. “Existe toda uma infraestrutura de backbone necessária para suportar esses sistemas. Resumindo, se engana quem pensa somente em frequência”, afirma.

Edge Computing é “grande habilitador”

Senior Manager da Deloitte, Alberto Boaventura destaca que o 5G viabilizou os serviços de baixa latência em função dos seus elementos de rede desagregados e virtualizados, cujos workloads podem estar centralizados ou distribuídos em função dos casos de uso.

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Alberto Boaventura - Assessoria de Imprensa

“Apesar da interface aérea do 5G permitir uma comunicação de baixa latência, menor que 1 ms, as aplicações devem estar mais próximas do seu usuário em função da limitação física da propagação eletromagnética. Por exemplo, na fibra, a cada 1000 km introduz uma latência de 5 ms. Outro aspecto é que os elementos de rede são virtualizados e, parte desta infraestrutura, como as estações rádio base, precisa estar distribuída, onde há uma necessidade de descentralização da capacidade computacional. No Brasil, há algo em torno de 100 mil estações de rádio base nas diversas tecnologias”, explica.

Boaventura enfatiza que o Edge Computing é um grande habilitador para as aplicações de baixa latência (como digital twin, metaverso etc.), mas também importante para a construção da infraestrutura do 5G, trazendo uma grande necessidade de que parte da capacidade computacional dos Data Centers tradicionais sejam mais distribuídos.

“No Brasil, não é diferente. E segue com a rapidez de adoção do 5G e suas aplicações principalmente pela indústria. Neste aspecto, as redes privativas 5G são um grande indutor da adoção dos Edge Data Centers. Em resumo, a medida que aplicações de baixa latência e virtualização de rede de telecomunicações (não limitado ao 5G, mas outros elementos como o vBNG, vOLT, vCPE/uCPE) exercem pressão para infraestrutura de computação mais a borda, onde os Edge Data Centers se tornarão mais populares e complementarão a infraestrutura tradicional mais centralizada”, analisa o Senior Manager.

5G nas capitais brasileiras

Em pesquisa divulgada pela OpenSignal, no dia 27 de outubro, foram analisados aspectos importantes da implementação do 5G no Brasil. De acordo com o estudo, a internet 5G de Brasília é a segunda mais rápida do mundo. A capital brasileira ficou atrás apenas de Seul, na Coreia do Sul, e à frente das capitais Camberra (Austrália), Berlim (Alemanha), Santiago (Chile) e Washington D.C (EUA), terceira, quarta, quinta e sexta posições, respectivamente.

Os usuários em Brasília tiveram um aumento de quase oito vezes (687,6%) na velocidade de download 5G e uma duplicação (104,1%) da velocidade de upload 5G. Em comparação com outras capitais da América Latina e do mundo, Brasília ficou entre os líderes 5G Download Speed e 5G Upload Speed, com pontuações de quase 370 Mbps e quase 31 Mbps, respectivamente. Entretanto, a disponibilidade de 5G ainda estava atrasada, porque em média os usuários gastavam menos de 13% do tempo conectado a 5G.

Segundo a pesquisa, a experiência brasileira melhorou acentuadamente desde o lançamento da 5G. As operadoras possibilitaram implantações de 5G na faixa de espectro de 3,5 GHz. Esta banda oferece muito mais capacidade e permite uma melhor transmissão de vídeo e velocidades de download muito mais rápidas.