A nuvem já é o tipo de tecnologia que serve de base para a digitalização de uma região. E a América Latina não está muito atrás quando se trata de investimento em nuvem. Vemos como esse setor cresce exponencialmente a cada ano, independentemente de fatores externos e internos aos países da região. Ao democratizar a digitalização, as empresas latino-americanas já entendem que a nuvem as ajuda em termos de inovação, competitividade e sobrevivência em qualquer mercado corporativo.

No final do ano passado, Alejandro Floreán, vice-presidente de Consultoria e Soluções Estratégicas da IDC, em sua apresentação no evento AWS re:Invent de 2023 revelou que a expectativa de gastos com TI na LATAM é de 5% de crescimento em 2024. O aumento nos gastos vem junto com a digitalização de diferentes setores na região, como a manufatura, que planeja investir 1,7 bilhão de dólares (8,4 bilhões de reais) em serviços de nuvem e conectividade. Esses gastos são segmentados em PaaS (Platform as a Service) com 31%, infraestrutura SaaS (Software as a Service) com 26%, IaaS (Infrastructure as a Service) com 23% e aplicativos SaaS com 20%. Os setores da economia destacados por Floreán são finanças, varejo, saúde, manufatura e energia.

Com foco em alguns dos países, o crescimento dos gastos com TI na América Latina em 2024, segundo a IDC, está refletido no gráfico abaixo:

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Crescimento dos gastos com TI na América Latina em 2024

Como região, a América Latina terá um crescimento ainda maior nos gastos com TI do que mercados considerados mais maduros, como os EUA, que terão 9% em 2024.

O estudo Nuvem na América Latina em 2023: Adoção e maturidade das empresas latino-americanas no caminho à Nuvem da NTT DATA e MIT Technology Review em espanhol mostra que 57% das empresas pesquisadas na região veem um aumento de 75% a 100% nos serviços em nuvem. E quais são as razões por trás desses investimentos em nossa região? O relatório detalha que 78,5% das empresas investem na nuvem para ganhar escalabilidade, 64,5% mencionam inovação e 49,5% time-to-market.

Esse nível de investimento é o que explica por que 98% das empresas da nossa região já iniciaram sua jornada nessa migração para a nuvem. O estudo também informa que 80% das organizações latino-americanas que já estão na nuvem estão em fase de implementação e otimização. O modelo híbrido é o mais utilizado pelas empresas da nossa região: 66%. E o elemento mais valorizado quando o assunto é a adoção da nuvem é a cibersegurança, apontada por 81% das empresas.

As barreiras para a Nuvem na LATAM

E é aqui que entram os desafios: para além das razões orçamentais já conhecidas e discutidas por todos, e no estudo apontado por 14% das empresas, a nossa região enfrenta desafios de natureza bastante cultural. 18,7% das empresas dizem ter problemas para desenvolver as habilidades necessárias e em demanda por tecnologia em nuvem. 12,3% também enfrentam dificuldades na gestão do negócio. 10% deles ainda não entendem o benefício financeiro e a viabilidade da iniciativa em nuvem. E, claro, 9% das empresas apontam para o desafio da resistência à mudança. E se falamos em arquitetura de dados, o desafio para 80% das empresas está na integração de sistemas.

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Um desafio que muitas empresas não consideram ao adotar a nuvem é a necessidade de melhoria contínua. E é justamente aí que aparecem os problemas de segurança, monitoramento, regulamentação, otimização, e tudo isso significa a geração de mais custos. Quando questionados sobre os objetivos para os quais as otimizações são realizadas, 74% apontam a redução de custos como o principal motivo e 68% apontam a flexibilidade para que possam se adaptar às constantes mudanças exigidas pelo mercado.

Tendências da nuvem

O estudo da NTT DATA e do MIT Technology Review em espanhol também nos trazem as tendências destacadas pelas empresas pesquisadas em nossa região quando o assunto é a nuvem.

40% das empresas relatam uma melhoria significativa na satisfação do cliente como resultado da adoção da nuvem. Outra tendência é a adoção da estratégia de jornada inteligente para a nuvem. Essa estratégia os ajuda a superar barreiras culturais por meio da conscientização organizacional em conjunto com a capacitação e o alinhamento de expectativas. E, por fim, 80% das empresas consideram essencial gerenciar a nuvem, implementar Operações Financeiras (FinOps) e, assim, otimizar custos e finanças.

A IDC também nos traz alguns dados interessantes quando se trata de tendências de nuvem. Por exemplo: 66% das empresas da América Latina querem lidar com menos fornecedores de infraestrutura digital e em nuvem. Por outro lado, 68% reconhecem que não podem contar com apenas um fornecedor. A ideia é encontrar uma maneira menos complexa de gerenciar dados em um ambiente multinuvem.

O componente que será fundamental em 2024: a adoção da IA a longo prazo. Hoje, a adoção de IA em nossa região está próxima de 5%, mas estima-se que possa chegar a 30% até 2027, com as empresas mais importantes dedicando mais de 25% de seus gastos com TI a iniciativas relacionadas a essa tecnologia. Para os próximos anos, a expectativa é que a IA ultrapasse a nuvem como principal eixo de inovação.

Até 2027, a IDC prevê que um terço das empresas enfrentará aumento dos custos de infraestrutura, representando um desafio para os futuros planos de negócios e investimentos em CAPEX. O controle de custos se tornará indiscutivelmente relevante para que o ROI dos investimentos em infraestrutura seja, no mínimo, suficiente.

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Nesse ponto, algo que está diretamente ligado ao ROI desses investimentos é a lacuna nas habilidades de TI. A IDC informa que, até 2027, 75% das empresas serão impedidas de realizar o valor total em investimentos relacionados à IA, nuvem, dados e segurança justamente por esse motivo. 84% dos profissionais de tecnologia entendem a importância da capacitação para acompanhar o desenvolvimento do setor, mas a realidade é que não há crescimento nos investimentos nesse sentido, resultando na tarefa cada vez mais árdua de encontrar perfis com as competências necessárias para o presente e futuro de toda a indústria.

O caminho para o futuro é nebuloso, mas claro. A pergunta que precisamos nos fazer é: estamos fazendo os investimentos certos para nos prepararmos para esse futuro? Não podemos deixar que os desafios acima impeçam o crescimento da nuvem em nossa região. A linha por onde o trem vai passar tem que ser construída, e parece que o trem está pronto para sair. Não podemos deixar que a América Latina seja a última a entrar neste trem ou, pior, ficar na plataforma.