As crescentes preocupações globais em relação às mudanças climáticas e às emissões de carbono têm instigado ações em diversos setores da economia. Em busca das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, torna-se crucial compreender e controlar as emissões de gases de efeito estufa, um ponto essencial para o enfrentamento das transformações climáticas.

Apesar do foco frequente em metas e acordos governamentais globais, é imperativo destacar o papel fundamental do setor privado nesse contexto. O estudo "The Carbon Majors Report 2017", desenvolvido pela Carbon Disclosure Project (CDP) em colaboração com o Climate Accountability Institute, evidencia de forma clara a responsabilidade das empresas no cenário das emissões. Surpreendentemente, desde 1988, apenas 100 empresas foram responsáveis por 71% das emissões de gases de efeito estufa.

Assim como em diversos aspectos da vida, apontar o problema não é suficiente; é necessário medi-lo e quantificá-lo. Seguindo o principal padrão corporativo, o Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol), as emissões de uma organização são classificadas em três escopos. Os dois primeiros são de reporte obrigatório, enquanto o terceiro é voluntário, porém considerado o mais desafiador de monitorar.

Essa abordagem não é restrita apenas a grandes corporações, sendo concebida para empresas de todos os portes e setores econômicos. Desse modo, sua aplicabilidade estende-se a instituições públicas e privadas, abrangendo, inclusive, governos, organizações sem fins lucrativos, seguradoras e universidades.

Ao longo das próximas linhas, exploraremos mais a fundo o significado dos escopos e como sua compreensão e aplicação podem ser a chave para enfrentar os desafios ambientais, contribuindo para um futuro mais sustentável e alinhado com as metas globais de redução de emissões. Acompanhe!

Entendendo o Escopo 1

As emissões do Escopo 1 desempenham um papel fundamental ao avaliar o impacto ambiental das atividades de uma organização. Elas representam as emissões diretas de recursos que estão sob a propriedade e controle da organização.

Em outras palavras, neste Escopo, as emissões são lançadas na atmosfera como resultado das atividades corriqueiras da empresa, abrangendo, por exemplo, o uso de combustíveis nas operações e os veículos da organização.

Uma das principais fontes de emissões do Escopo 1 é a combustão estacionária, derivada principalmente do uso de combustíveis e fontes de aquecimento nas instalações da organização. Além disso, as emissões de combustão móvel compreendem todos os veículos pertencentes ou controlados pela empresa.

As emissões fugitivas também desempenham um papel significativo no Escopo 1, resultando de vazamentos de gases de efeito estufa associados a sistemas de refrigeração.

Por fim, as emissões de processo representam a liberação de gases durante as atividades industriais da empresa. Essas emissões estão diretamente ligadas às operações do negócio e podem ocorrer em diversas etapas do processo produtivo.

Ao categorizar as emissões do Escopo 1 em combustão estacionária, combustão móvel, emissões fugitivas e emissões de processo, as organizações podem identificar áreas específicas que requerem maior atenção e ações para mitigar seu impacto ambiental.

No setor de Data Centers, o Escopo 1 refere-se às operações diárias e às emissões associadas a elas. Segundo o diretor de estratégia da Schneider Electric, Adam Compton, "geralmente representa menos de 0,5% do total de emissões de todos os escopos".

GHG Protocol
– GHG Protocol

E quanto ao Escopo 2?

O Escopo 2 se refere às liberações indiretas resultantes da aquisição de energia de uma concessionária. Em termos simples, essas emissões são geradas devido ao consumo de eletricidade, vapor, calor e resfriamento adquiridos pela organização. Embora não esteja sob controle direto da empresa, o uso dessas formas de energia a torna indiretamente responsável pela liberação de CO₂ na atmosfera.

Para a grande maioria das organizações, a eletricidade representa a principal fonte de emissões no Escopo 2. Segundo o GHG Protocol, este Escopo contribui com pelo menos um terço das emissões globais de GEE.

Os consumidores de eletricidade têm uma oportunidade significativa de reduzir essas emissões ao diminuir a demanda por eletricidade e adotar fontes alternativas, limpas e renováveis.

O Padrão Corporativo recomenda calcular as emissões do Escopo 2 multiplicando os dados de atividade (MWh de consumo de eletricidade) pelos fatores de emissão específicos do fornecedor e da fonte. Caso informações específicas sobre o fornecimento de eletricidade não estejam disponíveis, as empresas são aconselhadas a utilizar estatísticas, como os fatores de emissão da rede local ou nacional.

Neste Escopo, empresas pertencentes ao ecossistema de Data Centers, grande consumidor de energia, podem aportar ao fazer a transição para energias sustentáveis. "O Escopo 2 refere-se a emissões indiretas. Isso significa que não se trata de algo que você está fazendo diretamente, mas de algo que você comprou. Nesse caso, isso tem tudo a ver com a fonte de energia que você está usando para alimentar seu Data Center e suas operações. Dependendo da sua abordagem, você pode ter zero controle ou ser totalmente responsável por todo este Escopo também", afirma Adam Compton.

A Scala Data Centers, por exemplo, é uma das organizações do setor que, desde sua fundação, mantém o foco no Escopo 2, alcançando a neutralidade de emissões ao adotar o uso exclusivo de energia 100% renovável. A empresa adquire sua energia por meio de contratos de longo prazo, conhecidos como Power Purchase Agreements (PPAs, em inglês), sendo reconhecidos pelos Certificados Internacionais de Energia Renovável (I-RECs). Esses certificados atestam que a energia consumida pela companhia é de fato proveniente de fontes renováveis.

O que caracteriza o Escopo 3?

"Quando olhamos para a pegada de carbono geral de um Data Center, o foco principal, e com razão, tem sido a melhoria do Escopo 2. Muitos operadores têm firmado acordos de compra de energia para adquirir energia renovável, o que reduziu significativamente a pegada nos últimos anos. Por causa disso, a atenção agora se voltou para o Escopo 3, e os equipamentos dentro das instalações são os principais culpados", explica Rob Bunger, CTO na Schneider Electric.

As emissões do Escopo 3 abrangem todas as emissões indiretas que ocorrem ao longo da cadeia de valor da organização, representando um conjunto diversificado de fatores associados às operações da própria empresa.

Conforme definido pelo Protocolo GHG, essas emissões do Escopo 3 são subdivididas em 15 categorias, englobando todas as fontes indiretas não diretamente controladas pela empresa.

Como vimos, esta categoria inclui emissões associadas à cadeia de valor da empresa, desde a aquisição de matéria-prima até o descarte de resíduos.

Embora a mensuração das emissões do Escopo 3 não seja mandatória, muitas empresas reconhecem que a maior parcela das emissões de gases de efeito estufa e oportunidades de redução de custos está fora de suas operações diretas. Por isso, ao medir e avaliar as emissões do Escopo 3, as organizações podem identificar áreas críticas que demandam maior atenção.

O Escopo 3, ao considerar emissões provenientes de toda a cadeia de valor, desempenha um papel vital na compreensão completa do impacto ambiental de uma organização. Por meio dessa análise abrangente, as empresas podem tomar decisões informadas, implementar práticas mais sustentáveis e contribuir significativamente para a mitigação das mudanças climáticas, alinhando-se aos princípios da responsabilidade ambiental e corporativa.

Segundo Stefan Klebert, CEO no GEA Group, “devido à sua natureza complexa, as emissões do Escopo 3 só podem ser reduzidas em conjunto com fornecedores, clientes e outras partes interessadas. O sucesso requer uma abordagem que combine inovação e colaboração”.

Em 2023, a provedora de serviços francesa OVHcloud informou que passaria a fornecer aos clientes um relatório completo das emissões do Escopo 3 produzidas pelo uso de seus serviços em nuvem. O cálculo inclui todas as emissões de carbono causadas pelos serviços da provedora usados por cada cliente, incluindo as emissões provenientes da fabricação da OVHcloud e seu consumo de energia. "Devido ao nosso modelo verticalmente integrado, conhecemos todos os componentes em nossos servidores e podemos adicionar o impacto da fabricação de cada um. Também consideramos a eletricidade usada pelo servidor, tomando um fator de emissão baseado na mistura de fontes de eletricidade de cada país”, explicou, na época, Aurore Vaudatin, gerente de produto ambiental da OVHcloud.

Indo um pouco além: o Escopo 4

O Escopo 4 poderia ser definido como "emissões evitadas". Esta é uma métrica voluntária desenvolvida pelo World Resources Institute em 2013 e se refere às reduções de emissões que ocorrem fora do ciclo de vida ou da cadeia de valor de um produto, mas como resultado do uso desse produto. Por exemplo, serviços de teleconferência se enquadram na categoria do Escopo 4, porque possibilitam o trabalho remoto e eliminam a necessidade de deslocamentos e viagens corporativas.

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