O crescimento do mercado de Data Centers no Brasil vem junto com a necessidade de as empresas contratarem mão de obra especializada. Pensando nisso, a DCD falou com executivos do setor para entender o que as empresas pensam sobre essa questão e como lidam com isso. É um problema sério? O país consegue suprir as necessidades do trabalho em Data Centers? É o que veremos a seguir.

Iniciando a discussão, Thiago Spósito, sócio da Add Value, faz um diagnóstico de como ele vê o mercado e quais são os problemas enfrentados pelas empresas da indústria de Data Centers. Spósito nos diz que diversas pesquisas mostram o quanto o mercado de TI brasileira está defasado no número de profissionais qualificados. O Brasil terá déficit de 530 mil profissionais de tecnologia até 2025, mostra estudo do Google de 2023. O país não forma profissionais o suficiente, queima etapas e transforma júnior em sênior muito rápido. Se a empresa forma um funcionário júnior bom ele logo é assediado pelo mercado, o que inflaciona muito o custo de mão-de-obra e encarece os serviços. Mas o grande problema, diz o executivo, é entregar responsabilidades maiores para profissionais ainda não preparados para a função. E isso não é culpa deles: o mercado coloca responsabilidades que seriam de profissionais sêniores nas mãos de pessoas ainda inexperientes. Para Eryck El-Jaick, COO da Fibracem, o setor de Data Center no Brasil precisa de uma força de trabalho robusta tanto no aspecto quantidade, mas sobretudo de qualidade. Hoje o país possui uma quantidade considerável de profissionais de alta performance e que atuam como referência neste mercado.

Iara Oliveira, Gerente de Pessoas e Cultura Latam da ODATA, acredita que os talentos qualificados são facilmente relacionados com profissionais com muitos anos de experiência no setor, o que leva as empresas a disputarem um grupo limitado de pessoas. O fato é que não há a quantidade de profissionais com experiência para suprir essa demanda, tanto no Brasil quanto em outros países. Para Oliveira, as empresas devem fazer esforços para atração e contratação de jovens talentos e profissionais de outros setores, além de fornecer ambiente e programas que impulsionem um desenvolvimento acelerado para atingir o nível de qualidade necessário em um prazo adequado. Lembrando que no México a Universidade Politécnica de Querétaro anunciou o processo de admissão para a nova formação em Engenharia de Dados. A carreira de Engenharia de Dados, de acordo com Adriana Rivera, diretora executiva da Associação Mexicana de Data Centers (MEXDC), é uma excelente opção profissional e oportuna para praticar nesse setor em crescimento.

Uma questão que sempre aparece nas discussões sobre talentos é a quantidade e a qualidade do talento que o setor de Data Center no Brasil precisa. Alexandre Theodoro, diretor da área de Hybrid Cloud da Logicalis, diz à DCD que com o avanço das tecnologias de Inteligência Artificial, a busca por profissionais da área de Data Center tende a crescer ainda mais. Isso se dá porque as soluções de IA precisarão de infraestruturas específicas para atender três pilares que todos os clientes precisam, não importa o tamanho e a indústria: o Pilar Computacional, o Pilar de Redes (LAN e SAN) e o Pilar de Armazenamento. São necessidades que exigem conhecimentos específicos em diversas disciplinas e que farão com que os profissionais do setor sejam cada vez mais demandados para ajudarem no dimensionamento e na implantação dessas soluções.

Cada empresa lida com a questão segundo suas crenças e possibilidades. Ana Letícia, Diretora de Recursos Humanos na Ascenty, nos diz que sua organização possui alguns canais relevantes para captação de profissionais com ampla experiência e expertise nas áreas que demandam estrutura e qualificação. A Ascenty utiliza o LinkedIn, o site próprio da empresa e, principalmente, faz contatos de forma interna, o chamado Recrutamento Interno. Ana Letícia indica algumas das ações efetuadas pela companhia para encontrar novos talentos, tais como Recrutamento Interno, Headhunters e Recrutadores Especializados, Pesquisa Ativa e Programas de Desenvolvimento Interno. A Ascenty frequentemente combina essas estratégias para aumentar as chances de encontrar profissionais qualificados que atendam às necessidades específicas em relação ao gerenciamento e operação de um Data Center.

Como vimos no caso de Querétaro, já há universidades organizando cursos e formações voltadas ao trabalho em Data Centers. E no Brasil, como isso se dá? As universidades brasileiras preparam profissionais para o mercado? Marco Oswaldo Freitas, gerente de Canais da Tenable Brasil, acredita que para melhorar a situação a jornada de aprendizagem até pode começar em instituições educacionais tradicionais, mas o esforço colaborativo precisa envolver clientes, parceiros de canal, governo e fornecedores de tecnologia. A colaboração é fundamental para apoiar a curva de aprendizagem contínua dos profissionais de segurança, que podem, por sua vez, tornarem-se facilitadores dos serviços de um Data Center. Hoje, diz Freitas, é impossível considerar a execução até mesmo do aplicativo mais simples sem integrar a segurança da informação a um ciclo DevSecOps.

Milena Verri, Gerente Sênior de Talent Acquisition na Equinix, nos responde que 37% das vagas no ano passado foram preenchidas por estagiários e aprendizes e que essa é uma importante fonte de talento para a Equinix. A empresa investe no desenvolvimento desses profissionais para que possam fazer carreira dentro da Equinix já que, em geral, as universidades e cursos não cobrem a complexidade e multidisciplinaridade que envolvem o setor. Outra iniciativa importante realizada com sucesso pela empresa é o aproveitamento interno, com 20% das vagas sendo preenchidas com profissionais internos nos últimos dois anos, diz a executiva.

Leonel Oliveira, diretor-geral da Nutanix, também está preocupado com a falta de profissionais qualificados no mercado de Data Centers. Ele diz que universidades, fabricantes, governo e empresas devem realizar um esforço para capacitação e valorização destes profissionais. Mas o executivo também tem uma visão positiva do setor brasileiro de Data Centers. Para Oliveira, o mercado de trabalho se apresenta de modo dinâmico e crescente, com oportunidades em diversas disciplinas. Para ele, o mercado acompanha o setor como um todo ao vivenciar um forte crescimento impulsionado pelo aumento da adoção de serviços baseados em nuvem, transformação digital, adoção de IA e implantação da tecnologia 5G. Por fim, Leonel Oliveira acredita que a significativa mudança rumo a uma indústria mais sustentável e a incorporação de soluções de energia renovável para alimentação dos Data Centers poderá abrir oportunidades de emprego no setor.

Como é possível notar após as falas de executivos e executivas do setor, a questão dos talentos no setor de Data Centers no país é um assunto bem complexo. Sim, há falta de mão de obra especializada e as empresas estão se movimentando para preencher as lacunas. A falta de experiência é um fator importante destacado pelos entrevistados na matéria, assim como a necessidade de um trabalho conjunto entre todos os atores envolvidos no mercado para lidar com o problema. Mas também é importante destacar que as possibilidades são grandes, o setor tem capacidade para crescer e absorver profissionais qualificados. Agora, mais do que nunca, é o momento dos profissionais que pretendem entrar na área procurar conhecimento, adquirir experiência e entender o que o mercado de Data Centers precisa para ganhar espaço e subir em uma área consolidada e extremamente promissora.