O avanço do Edge Computing no Brasil exige mudanças técnicas e de 'mindset'. É o que afirma o estrategista de TI & strategic advisor Luis Fernando Vieira Quevedo, especializado em segurança cibernética, design e estratégia de Data Center.

“Trata-se de uma mudança de mindset e não apenas técnica, revendo a infraestrutura como um todo, com soluções de storage migrando de forma acelerada de discos convencionais para memórias flash e SSDs, que além de serem mais performáticas, devem se tornar mais baratas que os HDs tradicionais antes de 2025, sendo compatíveis com a adoção de liquid cooling por imersão”, explica Quevedo.

Os gastos mundiais com Edge Computing devem totalizar US$ 176 bilhões em 2022 e 70% das empresas executarão níveis variáveis de processamento de dados na borda até 2023, de acordo com estudo da International Data Corporation (IDC). Esse crescimento deve-se especialmente pela adoção das redes 5G, o movimento de migração das empresas para a nuvem e o aumento de aplicações de IoT no mercado.

Segundo Luis Fernando Vieira Quevedo, o acréscimo de dispositivos de automação e realidade aumentada no universo do metaverso, irão demandar elevada capacidade de armazenamento e processamento de dados em tempo real, onde não há espaço para latência de comunicação ou morosidade de processamento, com servidores cada vez mais potentes para suportar o avanço de soluções baseadas em inteligência artificial, gêmeos digitais (digital twin) e computação quântica, onde a infraestrutura tradicional dos Data Centers não estão preparadas para suportar.

“A maioria dos Data Centers tradicionais suportam até 20, 30 KVAs por Rack ou m2 do Data Center, que são climatizados com soluções convencionais de circulação de ar”, explica Quevedo.

O especialista afirma que com os super computadores, com processadores e placas aceleradoras gráficas de alta potência que demandam até 100 KVas por rack ou m2 do Data Center, “somente é possível climatizar com soluções baseadas em refrigeração líquida, seja por imersão em líquido dielétrico ou líquido refrigerado circulando internamente pelos principais componentes desses servidores de alta performance (HPC), reduzindo em até 75% o consumo de energia de climatização, chegando a redução de 95% no caso de liquid cooling por imersão”.

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– Diuliana França, diretora de Serviços de Cloud da Embratel

Para Quevedo, o cenário representa uma economia significativa dos gastos de energia, uma vez que a climatização é responsável pelo consumo de 40 a 50% da energia dos Data Centers, sendo uma iniciativa aderente a busca por sustentabilidade ambiental dos centros.

Diretora de Serviços de Cloud da Embratel, Diuliana França afirma que o Edge Computing descentraliza o processamento e as cargas de trabalho. “Hoje existem hardwares, que para 'sobreviver' em um ambiente distante dos Data Centers tradicionais, cheios de controles e nas melhores condições de energia e climatização, são resilientes a altas temperaturas e exigem menos consumo de energia”, disse.

Empresas precisam de processo de transformação digital

Diuliana França analisa que apesar da existência de empresas líderes digitais no Brasil, ainda falta um caminho a percorrer nesse processo. “O Edge Computing é um avanço da jornada digital. Enquanto temos empresas líderes digitais, há muitas outras ainda (e grandes empresas) que precisam passar por este processo de transformação do seu negócio de forma estruturada, não falando apenas de tecnologia, mas também da transformação de seus processos e cultura”.

De acordo com a diretora, a pandemia trouxe uma aceleração deste movimento. “Mas em muitos casos não aconteceu de forma coordenada e agora as empresas estão se ajustando, seja em termos de custos, seja em termos de segurança e até mesmo realinhando a estratégia para o avanço deste movimento de transformação”.

Segundo Diuliana França, o Edge vai viabilizar, entre outros benefícios, a automação, a Internet das Coisas (IoT), respostas em tempo real, Machine Learning, Inteligência Artificial e aplicações mais avançadas que demandem baixa latência.

Abertura de um “universo de inovação”

“Um universo de inovação se abre, aproveitando também todas as possibilidades que podem ser exploradas com o Edge e redes privativas. À medida que isso escala, questões como custos de dispositivos e serviços vão se tornando mais acessíveis, que hoje ainda é uma barreira de implementação. Recursos humanos capacitados também é um ponto importante, em que há uma carência muito grande quando se fala de tecnologia em geral”, afirma a diretora de Serviços de Cloud da Embratel.

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Victor Arnaud - Assessoria de imprensa – Foto: Assessoria de imprensa

Diuliana França destaca que até este ano, os casos de uso de Edge estavam sendo realizados em laboratórios e pequenos pilotos. “Agora, a partir da disponibilização do 5G, as empresas começam a buscar soluções em Edge, não só em função da rede, mas também para viabilização das suas necessidades de transformação, ou, até mesmo, revolução digital, que demanda esta tecnologia. Segundo o IDC, o cenário de aplicações rodando em Edge deve crescer em 800% até 2024, isso reforça como estamos em uma fase inicial de consumo da tecnologia e como deve ocorrer um crescimento nos próximos dois anos”.

Empresas devem se modernizar, diz diretor da Equinix

Managing Director da Equinix no Brasil, Victor Arnaud também destaca que o surgimento do Edge exige um novo modelo de infraestrutura de TI.Aquela infraestrutura tradicional, centralizada e dividida em silos, é ineficiente na economia digital. Para se prepararem, as empresas devem modernizar a TI e torná-la virtualizada, conteinerizada e definida por software para dar suporte ao Edge, considerando inclusive novos parceiros de Data Centers para ampliar seu alcance global. Ao distribuir a infraestrutura principal em instalações de colocation neutras em todo o mundo com uma grande rede, nuvens e presença de TI, as empresas líderes garantem o acesso à rede, a adjacência à nuvem e a participação em ecossistemas digitais”.

Para Victor Arnaud, as aplicações mais avançadas atualmente estão no setor automotivo, com os veículos autônomos; na saúde, com cirurgias remotas; nas fábricas inteligentes e nos jogos online, pois todas essas aplicações dependem de baixa latência. “É importante lembrar também do papel do Edge na maior eficiência de processos em geral, no cumprimento de requisitos de privacidade e soberania de dados e para reduzir ameaças à segurança”.

Arnaud destaca as vantagens do Edge Computing. “Como o Edge pode estar longe de Data Center corporativo e abranger centenas de locais e milhares de dispositivos e usuários, a rede precisa ser distribuída e próxima de tudo o que está conectando a empresa. Ao colocar a infraestrutura de computação, armazenamento e rede no Edge (física ou virtualmente), você reduz a distância e a latência entre as fontes de dados e recursos críticos de armazenamento, processamento, registro e análise de dados”.

O Managing Director da Equinix acrescenta: “A organização também pode manter seus dados perto das nuvens e de SaaS, acessando inteligência artificial em tempo real, Machine Learning, análise de dados e casos de uso em que a proximidade é fator primordial. É válido observar que, mesmo antes da alta demanda por ambientes mais distribuídos criada pela pandemia, as empresas já estavam começando a distribuir sua infraestrutura de TI, chegando mais perto do usuário em busca de melhor performance”.

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Márcia Andrade - Linkedin

Sobre as tendências como a internet 3.0 no mercado brasileiro, Arnaud considera que os executivos de TI do país estão “bastante antenados com as tendências globais”. “Dois terços deles, em umas de nossas pesquisas, disseram que já contam com estratégias de Web 3.0. Outras tecnologias recentes, como aplicações em tempo real, IoT e realidade virtual e aumentada também estão nos planos das grandes empresas em atuação no país para os próximos anos”.

“Aglomerado de necessidades”

Principal Interconection Manager da EdgeUno, Marcia Andrade enfatiza que há um aglomerado de necessidades para o funcionamento do Edge e do 5G no Brasil. “Quando se fala em 5G se pensa somente em recepção via satélite, ERB e antenas, mas os dados trafegados precisam ser armazenados, processados e distribuídos. E a partir disso, se tornam fundamentais os equipamentos de Edge e os Data Centers. Ou seja, se torna necessário ampliar a rede de infraestrutura a fim de comportar toda a distribuição deste tráfego com conectividade, sistemas computacionais, automação, colocation e infraestrutura em geral para receber equipamentos de redes de transmissão, roteadores e switches”.

Marcia Andrade acrescenta que “existe toda uma infraestrutura de backbone necessária para suportar esses sistemas, ou seja, se engana quem pensa somente em frequência”. Para ela, é inegável a mudança no cenário do mercado brasileiro atualmente com o Edge e o 5G.

“Este futuro chegou e está entre nós. À medida em que os 5G forem sendo instalados nas cidades e locais mais periféricos se tornará imprescindível para conectar sistemas e dispositivos. Tudo o que é relacionado aos equipamentos de IoT e que hoje não são mais difundidos por falta de capacidade e até mesmo baixa velocidade de conexão terão como ser conectados e funcionarão a contento”, afirma Márcia Andrade.

A especialista destaca: “Outro item futurístico que está presente é o Metaverso. O que vemos hoje é o início de uma nova maneira de se fazer negócio e conectar o mercado de vários setores da indústria com seus clientes. E não poderia deixar de citar o agronegócio que hoje é extremamente carente de conectividade por estar afastado das grandes cidades e consequentemente longe da conectividade. Assim que essa tecnologia estiver disponível nestes pontos periféricos, a indústria e tudo que gira em torno deles terá um boom de expansão e possibilidades”.