Com o desenvolvimento contínuo da IA e sua consequente necessidade de mais energia para operar, a pressão sobre a rede elétrica existente está se intensificando. Esse aumento na demanda de energia impõe desafios significativos, pois competir por recursos com residências e outras indústrias pode levar a interrupções de energia que afetariam negativamente o setor de Data Centers.

Uma reportagem de Michael Dempsey, repórter de tecnologia da BBC, destacou uma perspectiva interessante: o uso da energia nuclear em resposta à crescente demanda por energia gerada pela ascensão da Inteligência Artificial (IA).

Nesse contexto, a proposta de utilização da energia nuclear surge como uma solução potencialmente viável para garantir um fornecimento energético estável e suficiente para garantir as crescentes necessidades da tecnologia de IA no futuro.

Dempsey cita como exemplo a Digital Realty, que acaba de construir um enorme Data Center em Portland, Oregon, dedicado à IA. Um Data Center comum precisa de 32 megawatts de energia fluindo para o edifício, enquanto um Data Center de IA requer 80 megawatts. Os sistemas de IA estão usando toda essa eletricidade extra simplesmente porque estão fazendo muito mais processamento do que a computação padrão. Eles estão processando muito mais informações. Além disso, é necessário cinco vezes mais fiação, explica Chris Sharp, diretor de tecnologia da Digital Realty, entrevistado por Dempsey.

Sharp prevê que, em um futuro próximo, os Data Centers virão equipados com seus próprios reatores nucleares integrados. A tecnologia em questão é o tão anunciado Small Modular Reactor (SMR). São projetos avançados de reatores que geram cerca de um terço da energia de uma grande usina nuclear tradicional.

Embora atualmente não haja SMRs em operação comercial em todo o mundo, a China está construindo o primeiro de seu tipo, e tecnologia semelhante já é usada por submarinos nucleares.

Além disso, o relatório destaca que universidades como o Imperial College London, no Reino Unido, operam pequenos reatores nucleares para ensino e treinamento há anos. O próprio reator da Imperial, localizado nos arredores de Londres, esteve operacional de 1965 a 2010.

“Hoje, a maioria das empresas que desenvolvem SMRs para uso comercial estão se concentrando em ajudar as cidades a manter suas luzes acesas. No entanto, um grupo de empresas especializadas decidiu que os Data Centers são os melhores candidatos para seus projetos SMR”, destaca a publicação.

“Não há razão para que um pequeno reator rápido não possa alimentar um Data Center, exceto que você tem que colocá-lo através do regulador. Existem cerca de 50 projetos SMR por aí. O desafio é construí-los em unidades repetíveis, no estilo de fábrica, padronizando as linhas de produção”, disse o Dr. Michael Bluck, que dirige o Centro de Engenharia Nuclear do Imperial College London, entrevistado por Dempsey. Ele ressalta que um projeto de SMR de uma empresa chamada NuScale já foi aprovado pelo Escritório de Energia Nuclear dos Estados Unidos.

No Reino Unido, o Escritório de Regulação Nuclear continua estudando projetos de SMR da Rolls-Royce e da empresa de tecnologia americana Holtec International. Além disso, a empresa de energia americana Westinghouse quer construir quatro SMRs no nordeste da Inglaterra, no Vale de Tees, perto da usina nuclear de Hartlepool.

O Dr. Doug Parr, cientista-chefe do Greenpeace Reino Unido, também entrevistado pelo repórter da BBC, disse que os operadores de Data Centers recuarão quando forem apresentadas estimativas de custo revisadas que tornam as SMRs não competitivas em comparação com as fontes de energia renováveis. O Greenpeace apontou para o risco de acidentes e a necessidade de lidar com os resíduos radioativos.

Dempsey também falou com Brian Gitt, chefe de desenvolvimento de negócios da Oklo, empresa americana que planeja fabricar SMRs. “Reciclamos o combustível através de nosso reator várias vezes, lidando com os resíduos, e os novos reatores não podem derreter, eles resfriam e se regulam automaticamente”, explicou Gitt, que confessa que vários operadores de Data Centers sinalizaram interesse em SMRs.

“[Sem nós] eles simplesmente não têm o poder de ligar todas as máquinas que precisam ter. Estamos assinando cartas de intenção sobre locais específicos de data centers até 2028”, disse Gitt ao repórter da BBC.

A Oklo postou um vídeo no Youtube sobre como as SMRs funcionam.