Após uma entrevista com Rogério Rocha, consultor em Gestão de Infraestrutura e Virtualização em Data Center e membro da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (ANPPD), obtivemos insights valiosos sobre virtualização e eficiência energetica. Confira!

Como funciona o processo de criação de máquinas virtuais?

São muitos assuntos e detalhes que temos que tratar quando iniciamos à elaboração de um projeto para implementação ou atualização da infraestrutura de TI.

No que se refere ao processo de virtualização e, consequentemente, criação de Máquinas Virtuais, é recomendável conduzir um projeto separado para tratar exclusivamente dessa disciplina, já que sua complexidade exige a devida importância para alcançar o sucesso do projeto.

O projeto de virtualização e criação de Máquinas Virtuais pode começar a partir da elaboração de uma justificativa para o futuro investimento e sua importância para os dirigentes da corporação, que devem aprovar a ideia. Em seguida, identifica-se o fornecedor do software para virtualização mais adequado às necessidades do negócio. Com tantas opções no mercado, essa tarefa pode levar tempo, já que é preciso realizar uma análise minuciosa das funcionalidades e apresentá-las às partes interessadas do projeto em curso.

É muito comum na fase inicial criar um documento de “Assessment”, no qual os detalhes preliminares da infraestrutura estarão descritos e se poderá elaborar o estudo de viabilidade. Alguns itens são essenciais neste primeiro momento:

  • Identificar o custo total de propriedade (TCO);
  • Realizar uma análise detalhada do retorno para o futuro investimento (ROI);
  • Relatar quais são as dificuldades em provisionar novos recursos no ambiente, bem como o esforço para administrar a infraestrutura e o espaço físico consumido;
  • Mapear os desafios com a nova mudança, considerando que haverá uma transformação da infraestrutura vigente;
  • Observar a quantidade de licenças requeridas para implementar a nova plataforma de virtualização.

No segundo momento, é importante definir o planejamento de implementação do software escolhido em primeira instância. Nesta etapa, a participação das demais áreas parceiras será fundamental para coletar informações que serão usadas para formatar a arquitetura.

Algumas variáveis não podem passar despercebidas, por exemplo: qual a projeção de crescimento da infraestrutura para os próximos anos? Que tipo de recurso será necessário para sustentar determinada aplicação? Quais são as ameaças potenciais ao se utilizar um software para virtualização do ambiente?

A realidade é que todo o processo de implementação de virtualização no ambiente de TI dependerá se iremos prover uma nova estrutura ou se a infraestrutura vigente será reaproveitada.

A análise desses requisitos contribuirá para uma melhor definição. Neste período, boa parte dos esforços serão direcionados para:

  • Elaborar a Estrutura Analítica do Projeto (EAP) com informações sobre cada fase, etapa e fluxo de atividades;
  • Criar a estratégia de manobra considerando os riscos já mapeados;
  • Mapear os ativos que irão migrar para nova plataforma de virtualização;
  • Viabilizar uma POC (Proof of Concept) com o objetivo de simular a nova infraestrutura;
  • Elaborar uma estratégia para monitorar o novo parque. Alguns fornecedores já incluem esse serviço na switch de virtualização, mas é importante avaliar se é aderente à necessidade do negócio ou se uma solução de terceiros pode agregar mais valor e funcionalidades.

De que forma a virtualização ajuda a otimizar o uso de recursos de hardware e espaço físico em data centers?

O conceito de virtualização envolve muito mais do que a simples consolidação de servidores, e pode ser resumido em dois princípios fundamentais: a segmentação de um servidor físico em vários hosts virtuais (ou servidores lógicos), e a inserção de uma camada abstrata entre o hardware e o software.

A virtualização permite que a camada de software se torne independente do hardware, graças ao software de virtualização, também conhecido como Hypervisor ou VMM (Virtual Machine Monitor). Esse software é responsável por fornecer ao sistema operacional "guest" um conjunto de instruções de um host semelhante ao processador físico, permitindo a execução de diversos servidores virtuais (VMs) em um único servidor físico.

As técnicas de virtualização se baseiam no princípio de que o sistema computacional possui interfaces definidas, o que possibilita a independência de cada componente. O sucesso do projeto de virtualização depende, em grande parte, do formato e da escalabilidade do Hypervisor, que pode ser categorizado em dois modelos: Tipo Um e Tipo Dois.

O Tipo Um, ou Bare-Metal Hypervisor, é instalado diretamente no hardware x86 certificado e possui controle sobre o hardware e acessibilidade ao sistema operacional convidado, compartilhando os recursos (RAM, disco, CPU e I/O) para as máquinas virtuais instaladas sobre ele.

Já o Tipo Dois, ou Hosted Hypervisor, é instalado como uma aplicação convencional em um servidor com sistema operacional, e a camada de virtualização pode ter um sistema operacional diferente do que está instalado no host x86. As VMs são criadas sobre um hardware virtual entregue a partir do sistema operacional do servidor.

Uma máquina virtual contém os mesmos periféricos que um servidor físico, mas todos são baseados em software. A diferença entre um host virtual e um físico é praticamente imperceptível para os demais componentes do sistema computacional.

A virtualização transformou a forma como a computação é oferecida atualmente e teve um reflexo favorável nos Data Centers, pois tornou possível a redução do custo dos ativos a partir do melhor aproveitamento da carga inserida sobre servidores x86, consequentemente gerando uma maior redução de calor e consumo de energia dentro dos grandes centros de dados.

Pensando especificamente em eficiência energética, quais são os principais benefícios da virtualização? Podemos aliar o uso de virtualização aos planos de redução de pegada de carbono?

Alguns conceitos relevantes sobre a virtualização:

  • A virtualização é uma tecnologia que contribui para o consumo eficiente de energia no Data Center, estando, portanto, alinhada ao conceito de "TI Verde";
  • Com o uso da virtualização, a capacidade dos servidores pode ser aumentada de 15% para mais de 60%, o que a torna uma solução atrativa, segundo o IDC;
  • O retorno do investimento em ambientes virtualizados é rápido, quando comparado à arquitetura tradicional;
  • Utilizando a virtualização, é possível ter melhores chances de recuperar o ambiente em caso de desastres, garantindo assim maior segurança e disponibilidade dos serviços;
  • Ambientes baseados em servidores virtuais tornam as aplicações independentes do hardware, possibilitando a migração de um modelo 1:1, ou seja, uma aplicação rodando em um servidor físico, para 1:N, em que um servidor pode sustentar um número muito maior de aplicações (N).

O tema da virtualização, no contexto geral, impacta diretamente na redução do consumo de recursos no Data Center, consequentemente, reduzindo problemas associados às mudanças climáticas.

Desde que foi sugerido através do Protocolo de Kyoto em 1997, o Crédito de Carbono tornou-se um tema amplamente discutido em países que possuem objetivos claros na diminuição de gases poluentes lançados na atmosfera.

A cada tonelada de Dióxido de Carbono não lançado na atmosfera, os países que têm essa meta estabelecida conquistam um selo de certificação emitido pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), desta forma, conseguem comercializar (no Brasil, Decreto nº 5.882 de 2006) os créditos disponíveis com outros países que estão em busca deste objetivo.

O papel das organizações é contribuir com este plano através de medidas internas para controle e redução do desperdício de recursos na cadeia produtiva e operacional.

Para quais tipos e tamanhos de empresas a tecnologia de virtualização é mais indicada?

A virtualização desempenha um papel fundamental nas empresas e se tornou uma tecnologia essencial para a expansão da TI corporativa.

Independentemente do tamanho da empresa, a virtualização oferece uma alternativa para se destacar no mercado e se manter competitivo em relação às projeções de crescimento da TI nos próximos anos.

As soluções convergentes que facilitam a integração entre plataformas e ferramentas que gerenciam modelos distintos de máquinas virtuais são amplamente buscadas, pois têm como objetivo proporcionar resultados confiáveis ​​com menor custo e a vantagem de permitir uma rápida escalabilidade da infraestrutura.

Por exemplo, para que os provedores possam oferecer serviços cada vez mais competitivos, é fundamental entender as necessidades do cliente e criar uma infraestrutura capaz de suportar tamanha demanda. A arquitetura do Data Center é fundamental para disponibilizar recursos consistentes, que estejam cada vez mais próximos às necessidades do negócio.

É importante criar novos servidores em questão de minutos. Os consumidores esperam rapidez na resposta às suas chamadas de serviço e suporte.

A escalabilidade e a elasticidade são essenciais para que os serviços acompanhem a curva da demanda e evitem o desperdício na utilização dos recursos computacionais. Portanto, ter uma infraestrutura dimensionada adequadamente e equipamentos aferidos com precisão é fundamental para obter excelentes resultados, independentemente do tamanho da organização.

Normalmente, para onde os servidores que deixam de ser utilizados após a virtualização são destinados?

As empresas, geralmente, têm uma grande preocupação em elaborar um plano para a descontinuidade dos equipamentos no Data Center.

Esse plano envolve desde a definição do momento e da forma como esses equipamentos serão desligados até a logística reversa para o descarte adequado das "caixas" e seus componentes eletrônicos, visando minimizar o impacto ambiental e social.

Antes mesmo do descarte definitivo, é possível reciclar esses equipamentos de forma conveniente, reaproveitando parte do material na construção de novos equipamentos ou direcionando-os para projetos sociais.

É fundamental que os equipamentos indesejados sejam descartados em locais apropriados.

Empresas com maior estrutura geralmente possuem um local exclusivo para armazenar equipamentos descontinuados, que são posteriormente coletados por empresas parceiras especializadas em seleção, separação e reuso dos materiais. É importante ressaltar que o descarte inadequado desses equipamentos pode causar danos graves ao meio ambiente e à saúde humana. Por isso, é responsabilidade das empresas promoverem a gestão ambiental adequada e contribuírem para um futuro mais sustentável.

Conclusão

Acredito que cada projeto de virtualização apresenta características e necessidades únicas, as quais devem ser cuidadosamente consideradas para garantir a oferta de bons serviços para a corporação.

A virtualização é fundamental para a elaboração de uma estratégia inteligente de gerenciamento do Data Center. Ao adotar uma abordagem personalizada, é possível maximizar a eficiência da virtualização, obtendo benefícios significativos em termos de custos, segurança, escalabilidade e desempenho.