Empresas brasileiras usuárias do Data Center On Premise continuam investindo na atualização dos seus centros de dados. Latência, controle e independência no governo das suas informações são alguns dos argumentos dos empresários na hora de decidir não migrar para a nuvem ou para um Data Center colocation. Mas os custos para manter um Data Center, entretanto, aumentam exponencialmente quando comparamos com os incentivos e as facilidades que oferecem um fornecedor da nuvem ou um colocation para os negócios.

Segundo pesquisa da Allied Market Research, o mercado mundial de Data Centers gerou 59.000 milhões de dólares em 2020 e deve chegar aos 584.000 milhões de dólares em 2030. Embora este crescimento seja excelente para os servidores de hiperescala, o mundo dos Data Centers On Premise foi impactado significativamente.

Para o consultor sênior da Uptime Global Institute, Eder Gallardo, não podemos falar do fim do Data Center On Premise, já que o centro de dados depende dos objetivos dos negócios. “Vemos que o Data Center Enterprise continua existindo, até porque com a pandemia a demanda cresceu extraordinariamente. Quanto maior a demanda, maior a necessidade de uma estrutura física. A nuvem tem as suas vantagens, e uma delas é a flexibilidade. O modelo híbrido está aumentando. Então, creio que a nuvem vai existir e o Data Center vai coexistir”, afirmou Gallardo.

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Eder Gallardo – -

O consultor ressalta que o investimento em Data Center On Premise continuará ocorrendo não só no Brasil como na América Latina. “Os negócios continuam acontecendo, com empresas comprando Data Centers Enterprise. A expectativa era que com a nuvem os centros de dados desaparecessem, mas a realidade não é assim, já que nem tudo pode ser transferido para a nuvem. Os principais usuários ainda serão os bancos e as empresas de telecomunicações”, disse Gallardo.

Para otimizar um Data Center é necessário um planejamento com estratégias para eficiência energética, gerenciamento das infraestruturas de TI e ganho de performance, como a medição do consumo de energia de cada área do Data Center (storage, conectividade e refrigeração), calculando o Power Usage Effectiveness (PUE); além disso, averiguar quais equipamentos devem ser renovados ou substituídos, definindo o custo-benefício.

Renovação é chave para manter On Premise

Para o gerente de Data Center do Banco Itaú, Ricardo Firagi, se os centros de dados On Premise não se reinventarem ficará inviável manter os custos a longo prazo. “Sem uma boa estratégia, certamente veremos o fim deste tipo de Data Center. A migração para a nuvem é algo inevitável, dado a praticidade que oferecem os fornecedores, então a tendência é o esvaziamento”, disse.

Firagi ressalta algumas das ações implementadas pelo banco na gestão do setor, que conta com um modelo híbrido. “Nós trabalhamos no desenvolvimento de parcerias para que os nossos clientes possam ser usuários do nosso Data Center. É uma opção se você não vai ocupar todo o espaço com os seus equipamentos. Além disso, estamos investindo em tecnologia, automação, Machine Learning e Analytics. Trabalhamos muito com projetos de eficiência energética e com ventiladores com motores inteligentes para economia de energia. Aumentamos a confiabilidade e a disponibilidade”, explicou Firagi, que destaca a construção de dois parques tecnológicos pelo Itaú.

Para o especialista, o Data Center On Premise está longe de acabar. “Com o On Premise a grande desvantagem é a velocidade, pois quando preciso de uma máquina para o centro de dados, necessito fazer o processo de cabeamento, entre outros procedimentos. Tudo isso toma tempo. É o lado financeiro e a tecnologia. Mas não acredito que o Data Center Enterprise vai acabar, depende muito das estratégias das empresas. Temos conhecimento de empresas que migraram 100 % para a nuvem e depois voltaram por alguns insucessos. Ter uma infraestrutura híbrida de cloud ou multi-cloud é uma arquitetura de sucesso, tanto tecnicamente quanto financeiramente”.

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Claudinéia Gonçalves

Custos, benefícios e mais treinamentos

Analista de infraestrutura sênior e de gerenciamento de Data Center da indústria farmacêutica, Claudinéia Gonçalves enfatiza que é preciso analisar os custos e os benefícios de manter um Data Center Enterprise. “No modelo On Premise, a empresa é responsável pelo gerenciamento e pelas soluções. Ela tem o poder de decisão, a independência e é responsável pela manutenção do centro. Mas manter o Data Center On Premise tem um custo alto. Com o modelo colocation, por exemplo, podemos mensurar. Um centro de dados tem o gasto com a internet, para manter o sistema de monitoramento, o sistema de controle de acesso e a redundância”, exemplificou.

Claudinéia acrescenta: “Se você tem problema com desastre natural, enchente, tem que ter outro Data Center para servir de back up e não ter impacto nenhum. Na indústria farmacêutica ainda mais, toda a disponibilidade gera custo, e o colocation garante isso para o negócio”.

Em sua empresa, que prefere não identificar, Claudinéia trabalhou por 16 anos com o centro de dados On Premise e, devido a mudanças internas, em 2019 decidiram entre montar um novo Data Center ou migrar para o colocation. “Analisamos tempo e custo, e optamos passar para o colocation. Temos um site principal e outro de backup faz dois anos, e alguns estão na nuvem. Nos Estados Unidos, temos Data Center On Premise e neste momento não vejo a empresa migrando completamente para o colocation. Neste, o custo de manutenção é menor. Já no Enterprise o custo pode ser maior, com profissionais em operacional e em facilities. Por isso é necessário um balanço”, afirmou.

Para Claudinéia, o Data Center On Premise é o coração da empresa. “É o fim do On Premise? Sempre me perguntei isso. Acredito que não, porque o Data Center é o coração da empresa. Precisamos do On Premise para o gerenciamento do que possa ser o servidor. Mas esse centro tem que prover toda a segurança da informação e também deve estar condicionado pela questão do investimento e da atualização dos equipamentos”.

A analista defende a divulgação de informações e treinamento nos centros de dados. “O Data Center é pouco discutido no mercado. Se ele fosse mais divulgado e houvesse mais treinamentos, alguns incidentes poderiam ser evitados. As empresas devem investir nos funcionários com treinamento, palestras e eventos. Quais são as habilidades que você precisa para gerenciar um Data Center? Devemos discutir isso”, disse Claudinéia.

“É possível ter um Data Center On Premise sustentável”

Director of Information Technology and Innovation - Chief Information Officer do Banco Banrisul, Jorge Krug analisa o cenário do Data Center On Premise no Brasil. “O importante é se perguntar quem está atrás disso e de quem é o negócio. Se falamos em bancos, não é uma questão de ser vantajoso ou não. O nosso banco é estadual, por isso deve ter um ambiente estruturado com um sistema computacional altamente complexo. O Banrisul tem um dos melhores aplicativos do país. Isso me leva a ter um On Premise, uma necessidade nesse momento. A vantagem é ter o controle na mão. O caminho de terceirizar muitas coisas é viável e existe, mas também é viável o On Premise”, explicou.

De acordo com Krug, a migração dos dados à nuvem pode ser complexa e cara. “É preciso analisar a questão da própria segurança. Hoje tenho todo o arcabouço no On Premise, que teria que levar à nuvem. Com outro tipo de modelo de segurança cresceria também o custo adotado. O banco tem um sistema complexo que não deixa terceirizar serviços. Não sou contra jogar na nuvem, mas não para um banco tradicional”, disse.

Krug destacou as iniciativas do banco Banrisul na área da sustentabilidade. “É possível ter um Data Center On Premise sustentável e o Banrisul tem várias medidas de sustentabilidade, uma delas é o processo de captação da água da chuva e a sua reciclagem. Todo o abastecimento de água é com reciclagem, e no Sul do Brasil pelas condições climáticas podemos fazer o uso do ar e a redução brutal da energia.Somos orientados ao Green IT”.

Migração não é fácil

Especialistas concordam que nem sempre é fácil migrar do Data Center On Premise para um serviço de nuvem, por isso é possível que o On Premise não desapareça nem a curto nem a médio prazo. A tendência é que as empresas adotem o modelo híbrido. “Há aplicações que por temas técnicos necessitam a imediatez de ter acesso próprio ao conteúdo. A principal desvantagem é a manutenção e o refresh dos equipamentos. Devem ir se atualizando constantemente, com todas as mudanças tecnológicas que lidamos. Isso implica em investimento. Entretanto, migrar à nuvem não é tão fácil, a mudança não é só na tecnologia como na forma de uso. Por isso é importante analisar como ter o melhor dos dois mundos, On Premise e Cloud. Esse é o futuro”, afirmou Vicente Ángel Molina, Senior Manager Broadcast Operations & Technology da The Walt Disney Company.