Em 1982, nove anos depois da Primeira Conferência Mundial de Estocolmo em 1972, o Governo Brasileiro sancionou a lei 6938 que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente e cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente que, por consequência, criou o Sistema de Licenciamento Ambiental.

Reforçando a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas lesivas ao meio ambiente. Em seu artigo 60, estabelece a obrigatoriedade do licenciamento ambiental das atividades degradadoras do meio ambiente. Incluídas aí as penalidades a serem aplicadas ao infrator.

Nenhum financiamento interno ou externo seria possível sem os estudos de impacto ambiental e sem o devido licenciamento. Este processo envolveu um profundo reposicionamento na postura dos acionistas e dirigentes operacionais nas Indústrias de Transformação, que foram as primeiras compelidas a adotar medidas rigorosas de controle ambiental.

Esse processo envolveu educação ambiental, quebra de paradigmas no sentido de investir no seu futuro ao invés da obtenção de resultados imediatos e busca de retorno destes investimentos a curto prazo. Foi uma postura conjunta dos stakeholders que são os sustentáculos de toda a organização - Gestores da empresa, Funcionários, Fornecedores, Clientes e Comunidade.

Naquele tempo, perguntava-se: qual será o retorno deste investimento? A resposta era clara: “a sobrevivência da organização”. Os beneficiários? Os stakeholders.

QUEM GANHOU E QUEM PERDEU?

As empresas que aderiram a esta nova era tiveram ganhos de imagem, eficiência nos seus processos, segurança operacional, saúde de seus empregados e maior apoio das comunidades onde se instalam, além de se tornarem organizações confiáveis para a captação de recursos para o seu crescimento.

As empresas que não se submeteram aos novos tempos, em sua grande maioria, acabaram por encerrar as suas atividades.

A ENERGIA – EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E A SUSTENTABILIDADE

Estamos em meio a um processo semelhante no que se refere a consumo de energia. No entanto, ainda sem regulamentações formais, como as criadas pelas leis de proteção ambiental. Com isso, as empresas ainda não adotam com rigor o tema como um fator de competitividade e sobrevivência.

Neste novo contexto surge o compromisso da União Europeia de se tornar uma Economia Neutra em emissões líquidas zero de gases de efeito estufa. Agora o foco não está mais na indústria de transformação, mas nos grandes consumidores de energia elétrica. Por exemplo, no caso da Indústria de Data Center as metas de redução de PUE foram antecipadas para 2030.

Economia de Energia e Sustentabilidade, não é algo a ser transferido ou adiado. É como a proteção ambiental. Não temos outra saída senão criar os nossos programas antes que legislações e penalidades venham à tona através dos preços e de multas, ou até mesmo de impedimentos operacionais.

A adesão das organizações ao uso racional da energia será fundamental para a sua competitividade e o seu posicionamento no topo das empresas que prezam pela sustentabilidade. Fazê-lo somente de maneira pontual e condicionado ao retorno financeiro do investimento a curto prazo é muito pouco para cumprir os desafios que se impõem.

O ganho total é substancialmente maior do que apenas o ganho energético direto, que ocorrerá em menor prazo, diferente do investimento ambiental. O ganho maior será na sua imagem, competitividade e sobrevivência. A conta chegará mais cedo ou um pouco mais tarde; mas chegará, positiva ou negativamente. Na Europa com o Plano de Carbono Zero, as posturas de acionistas e dirigentes de grandes consumidores de energia já começam a mudar. É uma decisão empresarial aderir a soluções de baixo consumo de energia de maneira decisiva e permanente. Aprimorando os seus projetos, processos, instalações e abertas a receberem a colaboração dos fornecedores de tecnologia e de soluções. Não basta usar energia renovável contratando-a por geração hídrica e/ou eólica. É preciso gastá-las de forma equilibrada e racional.

É urgente e imprescindível usar pouca energia através de soluções inteligentes, como por exemplo, na utilização de refrigeração de ambientes críticos (Data Centers) onde a energia nestes processos alcança 50% do consumido em sua operação, utilizando-se o ar externo a baixas temperaturas, de maneira segura e controlada por sistemas de controle inteligentes.

Não utilizar o sistema conhecido como Free Cooling de maneira segura e controlada, em locais de baixa temperatura, é como jogar energia no lixo. Melhorar a sua eficiência energética implica em melhores soluções, bem como a aplicação de máquinas que tornam processos mais eficientes e as empresas mais competitivas.

Projetos antigos e equipamentos obsoletos não geram eficiência na operação da organização. A atração pelos preços mais baixos não proporciona benefícios, somente onera a operação. A cultura do preço baixo não eleva a eficiência energética ou dos processos.

Reduzir o consumo de energia é uma decisão corporativa que envolve, assim como a questão ambiental, educação dos colaboradores, atualização tecnológica e melhoria de instalações. Decisões ousadas de cima para baixo, pensando não tão somente no resultado imediato, mas posicionando a empresa e os seus projetos para os novos desafios que já se apresentam.

Como consequência, os seus processos e serviços prestados à sociedade serão melhores e mais sustentáveis. Compliance, normas e procedimentos internos das organizações foram criados para proteger a empresa e não para impedir ou inibir a sua adesão às soluções seguras e que proporcionam maior confiabilidade, eficiência operacional e energética.

Por outro lado, as normas são criadas para padronizar procedimentos seguros, tecnicamente adequados e viáveis. Inevitavelmente elas acabam sendo atualizadas posteriormente, já que a tecnologia evolui mais rapidamente do que as normas e procedimentos conseguem acompanhar.

Se estes fatores são muitas vezes obstáculos à modernização das empresas, há algo que precisa ser ajustado pela alta administração. Quando esta não decide, quem decidirá, na maioria das vezes, não tem a visão corporativa adequada. Transformações e mudanças de atitudes são exclusivas da Alta Administração.

A competição por preço, muito comum no Brasil, não é benéfica para as empresas. Por que não optar pela eficiência energética e pela redução de custo Opex?

Veja o exemplo abaixo de um feito da Indústria Automobilística:

Quando o automóvel modelo Gol - VW foi lançado em 1980 o seu motor de 1300cc produzia 47 HP. Com o modelo UP da mesma VW equipado com motor de 1000cc produz 82 HP. Isto só foi possível com a aplicação de produtos importados e posteriormente desenvolvidos pelos fornecedores de componentes locais, na busca de soluções tecnologicamente mais avançadas. Foi uma reação da indústria automobilística nacional após ser acusada de fabricar “carroças”.

Quando há opção pela tecnologia e eficiência energética os resultados vêm de forma surpreendente. Além disso, existem os financiamentos de ativos estratégicos como consciência de sustentabilidade, ou seja, o capital vai fluir para os ativos sustentáveis. Serão os já denominados Financiamentos Sustentáveis.

E não podemos pensar que estas exigências e programas não chegarão logo ao Brasil. Da mesma forma que vieram da Europa os conceitos de Proteção Ambiental e a adesão pelo Brasil aos catalisadores dos automóveis e dos caminhões; os conceitos de sustentabilidade e as penalizações pelo alto consumo de energia poderão vir de maneira mais rápida que antes e inclusive já na forma de normas e metas.

Não vale a pena esperar e apostar. Não existe outra opção a não ser investir em sustentabilidade.