Carlos Forero, COO Latam da Odata, participou do DCD>Connect Cancun 2023, que ocorreu no ano passado no Hard Rock Hotel Riviera Maya. O executivo fez parte do painel “Quais são as alternativas e soluções para a disponibilidade de energia no setor de Data Center na América Latina?”. A DCD conversou com Forero sobre o assunto.

Quais são os desafios específicos enfrentados pela América Latina em termos de disponibilidade de energia para Data Centers e quais são as soluções propostas?

Pelos investimentos na digitalização da economia, incluindo nuvem e inteligência artificial, estamos vendo um aumento acentuado no número de Data Centers, que também estão ficando maiores.

Isso aumenta substancialmente a necessidade de infraestrutura de energia, incluindo transmissão, distribuição e geração de energia renovável a custos competitivos, fatores que em muitas regiões têm colocado desafios à expansão do Data Center.

Na América Latina, cada região tem suas peculiaridades e necessidades diferentes em termos de infraestrutura de geração de energia. Por isso, é necessário realizar um estudo aprofundado de cada região em que um novo Data Center será instalado e entender quais medidas são necessárias para garantir a disponibilidade da energia que será utilizada na nova infraestrutura.

Eu poderia citar algumas soluções, como o investimento pesado em infraestrutura energética, encontrar locais favoráveis para alcançar a escalabilidade energética, investir em transmissão e geração de energia e, claro, buscar continuamente a geração de energia renovável e verde, que tem menos impacto no nosso meio ambiente, como a energia eólica, que aproveita os ventos fortes da região para gerar energia, iniciativa que a ODATA já adotou em seus Data Centers no Brasil.

Como garantir contratos de fornecimento de energia confiáveis e resilientes para Data Centers na América Latina, especialmente em tempos de crise energética e climática?

Uma das formas de garantir um fornecimento de energia confiável e resiliente para Data Centers é por meio de PPAs de médio e longo prazo, que também abordam emergências energéticas e climáticas.

Os Contratos de Compra de Energia (PPAs) são uma forma de as empresas, como os Data Centers, garantirem que a demanda de energia de suas operações seja atendida com uma quantidade equivalente de energia gerada ao longo de um período de tempo.

Há uma variedade de tipos e tamanhos de CCEs, que podem chegar a centenas de MW por contrato. Podem ser, por exemplo, PPAs físicos e PPAs virtuais (VPPAs, também conhecidos como PPAs financeiros). Nos PPAs físicos, as empresas concordam em comprar a produção de projetos específicos, ou seja, um parque eólico específico, enquanto nos VPPAs as empresas compram energia renovável do portfólio de um fornecedor de energia, mas não diretamente atribuída a projetos específicos.

Dessa forma, os Data Centers podem garantir energia confiável para sua demanda e também que essa energia será resiliente. É uma forma de se proteger contra incertezas, como aceleração da economia e falta de chuvas.

No caso das renováveis, é também uma resposta à crise climática, já que o Data Center deixa de consumir energia produzida a partir de combustíveis fósseis e a estratégia pode até contribuir para os planos de neutralidade carbónica da empresa.

É possível ser ambientalmente sustentável e ter disponibilidade e confiabilidade energética?

Sim, é possível ter PPAs, como mencionado acima, que garantam a disponibilidade e confiabilidade da energia, e que esse contrato de compra de energia fixe a fonte renovável. Dessa forma, a estratégia pode, inclusive, contribuir para os planos de neutralidade de carbono da empresa. Por exemplo, a ODATA tem um PPA no Brasil em que a energia vem da energia solar, o que está alinhado com o nosso compromisso de combater a crise climática.

No entanto, deve notar-se que, pela sua própria natureza, as energias renováveis podem ser inconstantes. O sol nem sempre está brilhando e o vento nem sempre está soprando, mas a demanda constante por energia de Data Center significa que mesmo as empresas com PPAs inevitavelmente verão as redes que alimentam os Data Centers se tornarem mais dependentes de combustíveis fósseis e não renováveis durante essas pausas.

Para combater esta situação, algumas empresas começaram a explorar a utilização de CAE correspondentes 24 horas por dia, 7 dias por semana (ou por hora), que visam garantir que as operações são cobertas por energias renováveis numa base consistente, mesmo quando determinados projetos renováveis podem estar a operar com menor eficiência.

Isso pode incluir o aprovisionamento excessivo de mais projetos, o investimento em diferentes tipos de energia, a utilização de sistemas de armazenamento de energia e a compra de energia renovável a partir de um mercado mais vasto. A Microsoft e o Google já trabalharam duro para garantir que pelo menos algumas de suas instalações sejam 100% livre de carbono 24 horas por dia.

Isso mostra que o ESG é realmente uma jornada e que o nível está cada vez mais alto, mas de forma alguma a sustentabilidade contraria a confiabilidade e a resiliência, muito pelo contrário. Juntas, sustentabilidade e energia estão encontrando maneiras cada vez mais inovadoras de garantir confiabilidade e resiliência energética, ao mesmo tempo em que se posicionam ativamente na luta contra a crise climática.