Poderiam as zona francas facilitar o processo de implementação de novos data centers, assim como fomentar um ecossistema tecnológico e inovador? As respostas para essas e outras perguntas você encontra ao longo da entrevista realizada com o Diretor Geral e Comercial da STULZ, Eduardo Rusafa.

Como as zonas francas podem fomentar o desenvolvimento do mercado de data centers?

O sistema de zonas francas pode ser um simplificador da implantação de data centers, além da desoneração fiscal e vantagens tributárias (os impostos alfandegários, por exemplo, normalmente não são cobrados sobre as mercadorias destinadas às ZFs), existem todos os aspectos de logística, segurança (com controle de acesso e vigilância 24x7) e energia que tornam mais viáveis as implantações dos centros de dados, reduzindo o número de obras e “permits" necessários.

Igualmente, as zonas francas permitem desburocratizar o processo de implantação, gerando rapidez e segurança para o empreendedor, criação de empregos e a arrecadação para o setor público.

No Brasil, existem desafios a serem superados?

Ainda que a implementação de zonas francas é uma forma de atrair investimentos estrangeiros ao país, existem desafios do ponto de vista tributário, visto que temos que proporcionar uma desoneração fiscal de impostos, como o de importação, a exemplo de outros países.

No entanto, já vemos iniciativas pioneiras, como do Governo de São Paulo, que acaba de publicar novos decretos (Decretos nº 67.516/23 a 67.526/23) que beneficiam o setor de data center com a redução de ICMS, para alguns itens de sua cadeia de insumos - objetivando estimular a economia, atrair investimentos e gerar novos postos de trabalho no Estado. Medidas como essas podem levar a um progresso significativo no setor.

Outro aspecto importante a considerar é a convergência de grandes consumos de energia em um só ponto, que deverão ser vistos como uma situação especial pelos órgãos competentes, de maneira a se viabilizar as permissões para as redes e a potência de energia consumida nestes locais.

Como as zonas francas podem colaborar com outras empresas e instituições para criar um ecossistema inovador para os data centers?

A confluência de data centers em zonas francas vem seguida de um grande uso de mão de obra, primeiro nas empresas de construção e fornecimento de equipamentos, depois nas empresas de manutenção. Além disso, temos a empregabilidade de toda a mão de obra técnica especializada que requer o setor, como engenheiros, técnicos, especialistas em redes, etc.

Para além da natural atratividade de empresas tecnológicas, próximo ao empreendimento, vejo ainda algo em maior escala, como as implantações de escolas técnicas para a formação de mão de obra específica, assim como a atração de outros serviços para essas regiões, de modo a atender a mão de obra residente.

Já vemos a presença de data centers em zonas francas, como nos casos de Bogotá (Colômbia) e Barcelona (Espanha), considerados pontos de atratividade de desenvolvimento tecnológico e econômico, bem como um polo natural de atração de talentos e, consequente, desenvolvimento econômico.

Como a formação de parcerias pode ser uma estratégia eficiente para a atração e implantação de data centers no Brasil?

Creio que é essencial a participação do Governo, para mover e alterar leis e regulamentações pertinentes, estabelecer uma legislação abrangente e rígida sob o aspecto da segurança para o investidor aportar seus recursos, assim como buscar municípios interessados em receber essas ZFs.

Temos casos de sucesso de Parques Tecnológicos em cidades como Campinas (SP), Florianópolis (SC), São José dos Campos (SP) e a própria Zona Franca de Manaus (AM), um polo industrial atrativo e que poderia ser replicado, com as devidas adaptações, para a atividade de Data Centers no Brasil.

Outro aspecto muito importante que pode ser fomentado é a busca e atração, para esse entorno, de escolas técnicas, provedoras de energia de fontes renováveis, tais como eólicas e solares, e oferecer contrapartida aos municípios.

É um grande rol de possibilidades que, com certeza, envolvendo os empreendedores, abririam uma janela de prosperidade para os locais onde fossem instalados. O importante é ser criativo, estar aberto às particularidades legais e regionais, criando um modelo de atração e desenvolvimento, adaptado à realidade do país, que possa impulsionar esse setor, gerando, em contrapartida, emprego, renda, benefícios sociais e, em consequência, desenvolvimento para toda a nossa sociedade.